quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Rock'n'Roll Lullaby

Uma canção tão singela e que traduz tão bem o amor entre as mães e seus filhos.
Não há como não ser, profundamente, tocada por ela.
E na voz doce da Fernanda Takai fica ainda mais especial.

(tentei encontrar um vídeo de melhor qualidade, mas não achei. Por enquanto, vai este mesmo)

(tradução abaixo)

Rock And Roll Lullaby

She was just sixteen and all alone
When I came to be
So we grew up together
My mama child and me
Now things were bad and she was scared
But whenever I would cry
She'd calm my fears and dry my tears
With a rock and roll lullaby

And she would sing sha na na na na na na na ...
It will be all right sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Now just hold on tight

Sing it to me mama (mama mama ma)
Sing it sweet and clear, oh!
Mama let me hear that old rock and roll lullaby

Now we made it through the lonely days
But Lord the nights were long
And we’d dream of better moments
When mama sang her song
Now I can't recall the words at all
It don't make sense to try
'Cause I just knew lots of love came thru
In that rock and roll lullaby

And she'd sing sha na na na na na na na
It will be all right
Sha na na na na na na na
Now just hold on tigh

I can hear you mama, mama, mama, mama
nothing loose my soul
like the sound of the good old rock and roll lullaby


Rock And Roll de Ninar

Ela tinha apenas 16 anos e completamente sozinha
Quando eu nasci.
Então nós crescemos juntos,
Minha mãezinha-criança e eu
Agora as coisas estavam ruins e ela estava assustada
Mas sempre que eu chorava,
Ela acalmava meus medos e enxugava minhas lágrimas
com um rock de ninar

E ela cantava sha na na na na na na na ...
Vai ficar tudo bem sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Agora aguente firme

Cante para mim mamãe, [ mamãe]
Cante isto de forma doce e pura, oh!
Mamãe deixe-me ouvir aquele velho rock de ninar

Nós fazemos isto durantes os dias solitários
Mas, Senhor, as noites eram longas.
E nós sonhávamos com manhãs melhores
Quando mamãe cantava a canção.
Agora eu não consigo lembrar as palavras de jeito nenhum,
Não faz sentido tentar
Pois eu simplesmente sabia que muito amor vinha através
Daquele rock de ninar.

E ela cantava sha na na na na na na na
Vai ficar tudo bem
Sha na na na na na na na
Agora me segure firme

Eu posso te ouvir mamãe
Nada cura minha alma
como o som do bom velho Rock de Ninar

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Por que sempre procuramos um vilão?



Este vídeo, feito para uma Campanha da Cruz Vermelha da Catalunha, foi premiado em 2006, no Primeiro Festival Internacional de Comunicação Infantil. O festival tem como objetivo premiar a publicidade infantil criativa e responsável, além de criar fóruns de reflexão sobre esta fatia do mercado publicitário. Publicidade infantil é toda aquela que tem a criança como público alvo para determinado produto ou serviço. Iniciativas como esta propõem discutir maneiras para regulamentar a publicidade infantil, sem ter que simplesmente proibí-la, como se isto fosse possível num mundo tão globalizado e capitalista. Será que não é mais realista investirmos no fortalecimento das crianças para que consigam reagir da melhor forma possível às tentações da mídia, ao invés de remar contra a maré, querendo exterminá-las?
O trailler a seguir é do documentário "Criança, a alma do negócio" que foi feito com o objetivo de mostrar a perversidade da publicidade infantil. Será que é mesmo a mídia a principal vilã da história como pretende mostrar o documentário? Eu, sinceramente, não reconheci meus filhos ali. Por isso, penso que deve haver muitas outras razões para que uma criança se torne tão consumista e consequentemente, tão permeável à publicidade direcionada a ela. Mas, com certeza, é mais cômodo tirarmos de nós a responsabilidade.




O vídeo está inteiro no youtube e dividido em 6 partes:
http://www.youtube.com/watch?v=dX-ND0G8PRU&feature=related

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Show de lançamento do livro-cd "História pra boi casar"

Adorei!

História pra boi casar
Alessandra Roscoe
ilustração de Mariana Zanetti
Editora Peirópolis

"Neste livro-CD, o segundo da coleção Livro & Música, a escritora Alessandra Roscoe conta a história do boi de cara amarela que foge para casar-se com a vaca, aquela mesma que pulou a janela. A história foi inspirada em cantigas de ninar que embalaram muitas infâncias e no bumba-meu-boi do folclorista maranhense Teodoro Freire, que há cinco décadas mantém viva a tradição do bumba-meu-boi na região de Brasília, onde mora a autora. Depois de conhecê-lo, Alessandra vestiu seu personagem com a roupagem do folguedo popular e "casou o boi" ao som de pandeiros, maracás e do tambor de onça dos cantantes de Teodoro, dando origem também ao CD, em um feliz encontro com a cultura popular brasileira."
http://www.editorapeiropolis.com.br/detalhe.php?cod=228


Parte 1



Parte 2


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quando não tem ninguém olhando

Tenho escutado de muitas pessoas que votar em um dos candidatos, é ser conivente com o vale- tudo das campanhas e com os casos de corrupção, antigos e recentes (estes, bem mais lembrados). Não tenho dúvidas em relação à trajetória absolutamente íntegra da ex-candidata Marina Silva. Mas tenho dúvidas, e muitas (acho até, que tenho a certeza absoluta do contrário) de que ela, na presidência, conseguiria livrar nossa nação destas práticas tão indesejáveis. Não acredito que isto vá acontecer num movimento de fora para dentro. Mas sim, em consequência de uma transformação profunda em nossa sociedade. Lenta, gradual e pela qual cada um de nós é responsável. O problema do desvio moral, na minha opinião, é de toda a sociedade. Está presente em muitas práticas aparentemente irrelevantes de todos nós. Os exemplos são infinitos: um comercinate erra no troco, te dá dinheiro a mais e você não fala nada; você sabe que não pode jogar lixo no chão, não tem ninguém olhando e você joga; você sai com seu cachorro para passear, ele faz cocô na calçada do outro e você finge que não viu; você precisa transferir seu carro, mas sua documentação não está em ordem e você paga para um despachante dar um jeitinho; você sabe que vai ter um evento concorrido na sua cidade e usa seus contatos para conseguir acesso privilegiado. Acredito que serão necessárias ainda muitas gerações para que a nossa sociedade seja predominantemente (nunca totalmente) constituída por sujeitos que tenham uma formação moral sólida e, portanto, refratária a situações que privilegiem a sua vida pessoal em detrimento da coletividade. Eu não espero ver nos próximos quatro anos o fim da corrupção na política. Não tenho mesmo essa ilusão. Mas quero, neste momento, tomar partido. E tomar partido é escolher o lado que mais se aproxima das minhas convicções. Mesmo sabendo que tomar partido é correr o risco de, daqui a quatro anos, ter que assumir o erro da minha escolha, se este for o caso. Dilma. 13. Este é o lado que escolhi.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Maria Rita Kehl

A psicanalista Maria Rita Kehl foi mesmo demitida do jornal O Estado de São Paulo, onde era colunista desde fevereiro deste ano. O motivo teria sido a coluna publicada um dia antes do primeiro turno, em que comenta a decisão editorial do jornal de apoiar a candidatura de José Serra à Presidência e faz uma análise sobre a "desqualificação" dos votos dos mais pobres. (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php)

O trecho abaixo é de um dos belíssimos ensaios desta, que é uma das nossas mais brilhantes intelectuais e que o Estadão acaba de perder. A sua liberdade de se expressar pode ter sido confrontada, mas não a nossa de acompanhá-la. Eu tive o privilégio de participar de um grupo de estudos em psicanálise, supervisionado por ela, quando estava no quarto ano de faculdade. Desde então, nunca mais a perdi de vista.


"Masculino/Feminino: O Olhar da Sedução
Maria Rita Kehl

O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo. Caçada silenciosa entre dois olhares; captura numa rede perigosa de palavras. Jogo arriscado e fascinante ─ angústia e gozo ─ onde o vencedor não sabe o que fazer de seu troféu e o perdedor só abe que perdeu seu rumo; um jogo cuja única possibilidade de empate se chama amor.
Essa abordagem parte do ponto de vista do aparente perdedor ─ o seduzido─ já que é ele quem nos deixa registro sobre sua experiência. É o seduzido que se expressa ─ na poesia, na literatura, nos consultórios de psicanálise. É o seduzido que tenta compreender a transformação que se deu nele ao mesmo tempo em que tenta entender o poder do olhar sedutor. O que significa Odete para Swann? De que encanto o seduzido é presa, ele não sabe dizer. O sedutor é o que não revela. Mas revela alguma coisa ─o quê? ─ sobre o seduzido.


“Ai ioiô... eu nasci pra sofrer/fui olhar pra você, meus olhinhos fechou./ E quando os olhos eu abri/quis gritar, quis fugir/mas você, eu não sei por quê/você me chamou”... Que o seduzido está fascinado por alguma espécie de perigo, é certo. O risco mais óbvio seria o do abandono ─ “seduzido (a) e abandonado (a): não é assim que se diz? Mas ainda falta saber por que o abandono parece se inscrever sempre na experiência da sedução ─ e em que lugar tão ermo o seduzido é deixado, que lugar tão inóspito e este em que ele se sente como se estivesse sendo deixado para morrer.
A experiência da sedução é diferente da do apaixonamento ─ embora uma contenha a outra, e vice-versa! E bem mais diferente da experiência do amor que conta com a reciprocidade, com a entrega mútua onde dois caminham juntos por terrenos mais ou menos (mais no menos!) conhecidos O seduzido não sabe onde pisa─ e pensa que o sedutor sabe. Antecipa prazer e dor, pois, ao mesmo tempo em que espera o gozo prometido pelo sedutor, já sabe que se aproxima uma catástrofe. O seduzido é alguém que perde o rumo e tem que se guiar, nas brumas de uma infância revisitada, pela bússola do olhar sedutor.
Não se pode dizer que o seduzido ame o sedutor ─ ele é seu prisioneiro. Talvez odeie mais do que ame ─ “mas não deixo de querer conquistar/uma coisa qualquer em você/que será?” A conquista do sedutor é a esperança de libertação do seduzido, já que o sedutor parece possuir a chave dos enigmas que o aprisionam: o que você vê em mim que eu não vejo? O que você sabe de mim que eu não sei? O que você deseja em mim que eu não domino, ao mesmo tempo em que o seu olhar me diz que eu não possuo? Que dom seu olhar tem o poder de criar em mim para o seu desejo?
Escravidão da sedução: eu só possuo o dom para o seu desejo enquanto você o vê em mim. Sou eu escravo ─ou não sou nada. E o poeta seduzido suplica: ‘Oh minha amada que olhos os teus/quem dera um dia, quisesse Deus/eu visse um ida o olhar mendigo/ da poesia nos olhos teus” ─ sabendo que o olhar mendigo da poesia é o seu próprio; implorando a algum deus a graça de ver este olhar pedinte no rosto da amada, pois quem pede se revela: revela carência. Se o olhar da amada mendigasse, deixaria de ser inacessível, indecifrável, “ cais noturno cheios de adeus’. O poeta conhece o naufrágio da sedução."


(Do livro “O Olhar” Adauto Novaes)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Por favor, seu RG, CPF e CID

Muitos psicólogos infantis (espero que a maioria) têm questionado a quantidade de diagnósticos precipitados que se tem feito atualmente, especialmente os de déficit de atenção, com ou sem hiperatividade, e os de dislexia. Para agravar ainda mais esta tendência, os planos de saúde, que agora são obrigados a cobrir sessões de psicoterapia, exigem o código da doença do beneficiário, encontrado numa Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID–10). Para cada doença, há um código correspondente. As operadoras têm procedimentos diferentes, mas em geral, para conseguir delas a autorização para o acompanhamento psicológico, o usuário precisa de uma guia com o diagnóstico (CID) e o número de sessões recomendadas. Prescrição esta, feita por médicos e não pelos próprios psicólogos (favorecimento da classe médica?). A cobertura ou não das sessões vai depender da doença diagnosticada, ou melhor, do código. A quantas o usuário terá direito (variam de 12 a 40 sessões por ano), também vai depender deste número, que vai ainda determinar se o atendimento precisa ser feito por um psicólogo ou se pode ser feito por médicos habilitados e já credenciados no plano. Nestes casos, as operadoras não precisariam contratar psicólogos para cumprir a exigência. Há operadoras, por exemplo, que não têm nenhum psicólogo em sua rede credenciada, com o argumento de que a resolução normativa 167 da ANS, que amplia o Rol de Ações de Saúde, não impõe a contratação de psicólogos, desde que haja médicos habilitados para garantir o cumprimento da lei. Curioso é que a mesma resolução determina que alguns códigos (CID) prevêem que o tratamento seja necessariamente feito por psicólogos.

Entre tantas informações e interpretações, fico com as seguintes questões:

1. Será que um psiquiatra, por mais experiente que seja, consegue, em uma consulta, dar um bom diagnóstico?
2. Devemos necessariamente fazer parte de uma classificação nosológica para precisarmos de um acompanhamento psicológico?
3. Será que não é prejudicial a uma criança e a sua família sair de uma consulta com um código que atribui unicamente a ela uma doença ou um transtorno?
4. Caso o médico explique que o CID colocado na guia tem o objetivo apenas de justificar a cobertura das sessões, não estará contribuindo para desvirtuar um dos objetivos do CID-10 (10, porque a publicação está na sua décima edição), que é promover estatísticas relacionadas à morbidade e mortalidade?
5. E os casos em que há sofrimento psíquico sem, no entanto, haver uma classificação para ele? Ou seja, os tratamentos preventivos na área da saúde psíquica continuam excluídos do Rol?

Sem dúvida, um grande avanço. Mas há muito ainda pra se discutir.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mais um projeto de lei

Foi encaminhado esta semana para o Legislativo, um projeto de lei que proíbe os pais de darem castigos corporais, como palmadas e beliscões. As penas para os infratores serão as mesmas já previstas no ECA: advertência, encaminhamento a programas de proteção à família, orientação psicológica, e até mesmo perda de guarda. Será necessário o testemunho de terceiros que façam a denúncia ao Conselho Tutelar. Segundo uma das articuladoras do movimento que levou a proposta ao governo, o projeto tem como objetivo acabar com a cultura da palmada.
No texto, castigo corporal é definido como "ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente". No dicionário, palmada é "pancada com a palma". Pancada, por sua vez, é "agressão física por meio de socos, tapas, etc". Mas e a "palmada" na palma da mão da criança? O famoso tapinha na mão. E a palmada no bumbum, ou melhor, na fralda? Aquelas, que nem exigiram tanta "força física" assim e nem resultaram em "dor ou lesão". Os antigos costumavam falar que serviam pra tirar pó. Serão também enquadradas nos castigos corporais sujeitos a penas? São o quê afinal? Pancadas? Palmadas? Tapas? Agressões físicas? Castigos? "Tratamento cruel e degradante"?
Não estou de forma alguma defendendo estas ações. Sempre achei que devem ser evitadas de todas as maneiras. Nunca fui uma defensora das palmadas. Ao contrário. Estou apenas tentando entender o alcance da lei e a sua aplicabilidade. Eu acharia mais interessante um projeto de lei que, por exemplo, obrigasse as escolas a tratarem, com profundidade, temas como estes, ao invés de usarem tanto tempo das reuniões com organização de festas ou questões puramente burocráticas. A informação pode levar os pais a mudanças de atitude com muito mais eficácia do que a imposição por meio de leis como esta.
Além disso, se o objetivo do projeto é evitar que as crianças sofram violência física e psicológica, muitas outras leis teriam que ser criadas para proteger as crianças dos adultos. Conheço pais que não autorizam o filho a fazer aula de teatro na escola porque teatro é coisa de "bicha". Conheço outros que proíbem o filho de brincar com o vizinho, com o argumento de que não é boa companhia. O Motivo? Pertencer à família de uma religião que "atrai o demônio". Sim. Sou contra a palmada, mas também, contra este tipo de constrangimento e discriminação. Neste caso, a violência atinge não só o filho, mas também outras pessoas.
Precisamos antes discutir o que é privado e o que é público. Quando é que o privado deve passar a ser público e quando é que deve manter-se privado. Caso contrário, já já um projeto de lei vai exigir a instalação de câmeras também dentro das nossas casas. Vamos sim discutir a violência doméstica. Acho até que trazer este tema para o debate é o lado bom de um projeto assim. Mas não vamos tratar o problema como algo que se resolve com a imposição de uma lei. E nem nos esquecer que os pais continuam sendo os maiores protetores de seus filhos. Violência é colocar uma lei como esta no meio deles. Galinha não mata pinto. Com raríssimas exceções.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Do filme "Paris, te amo"

Sensível, sutil, triste...


ZAKOCHANY PARYŻ - LOIN DU 16e - Walter Salles & Daniela Thomas

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Boas recordações...

História de uma gata - Miúcha, Chico Buarque e crianças


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Deliciosas brincadeiras do Pato Fu

Música de Brinquedo é nome do novo disco do Pato Fu, que será lançado logo depois da copa. A banda escolheu canções antigas e bem conhecidas do público adulto, por acreditar que teriam mais impacto do que se fossem inéditas. Todas foram gravadas com instrumentos de brinquedo. Uma prova do resultado está nos dois vídeos que os mineiros disponibilizaram em seu site.
Adorei...




quarta-feira, 16 de junho de 2010

Delícias do irmão do Pedro


Falando no seu celular de brinquedo:
"Oi tio Carlão. Eu esqueci minha bola aí. Você manda por e-mail?"

Para o amiguinho da mesma idade que me chamou de tia:
"Ela não é tia ô, ela é mãe."


Passamos em uma casa cheia de bexigas na varanda e ele diz:
Acho que vai ter festa aí mamãe. Vai todo mundo. Todos os vovôs, todas as vovós, todas as mamães, todos os papais, todos os Pedros...."

Descobrindo o plural:
"Olha mãe, todos os meninos estão descendos."
(vários meninos estavam descendo a rua, em direção ao parquinho)

O amigo de 4 anos pergunta a ele:
"Gabriel, qual a sua cor preferida?"
Ele responde:
"Colorido."

Para os amigos que estão brincando de massinha com ele:
"Que cor você quer levanta a mão!"

Chego perto dele depois de passar perfume e ele diz:
"Tô escutando um cheiro!"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Vigilância X Autonomia

Um projeto de lei, em discussão no Congresso, obriga todas as escolas de Educação Infantil (particulares e públicas) a instalar câmeras de monitoramento, com o objetivo (manisfesto) de reprimir os casos de violência na primeira infância. Segundo Foucault, em "Vigiar e Punir", para a economia do poder, é muito mais rentável vigiar do que punir. Por meio da vigilância, evita-se que as pessoas cometam atos ilícitos e sejam punidas depois. Função que as câmeras colocadas nas escolas cumpririam muito bem. No entanto, nada seria mais incoerente com o objetivo maior da educação, que é a conquista de autonomia moral e intelectual. Estamos sempre dizendo às crianças que devem fazer ou deixar de fazer certas coisas, única e exclusivamente, por considerá-las corretas ou não, e não para fugir de punições ou em busca de recompensas. Estas mesmas crianças assistem à instalação de um sistema de monitoramento que pretende, justamente, vigiar adultos para puní-los depois, se for o caso. E bem no espaço onde começam a ser confrontadas com valores morais importantes para a convivência humana (respeito, justiça, cooperação, responsabilidade, etc.) e onde, portanto, deveriam exercitá-los. Qual será o significado que essas crianças darão ao termo confiança, crescendo em ambientes tão vigiados? Como pode? Tanta contradição. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carta do tio Ricardo

Gabriel,
Há 3 anos, seu tio Ricardo escreveu esta carta pra você.
Sem dúvida alguma, fomos novamente abençoados.

"Veio pra aquecer o nosso inverno,
alegrar a vida dos avós,
recompensar toda a espera do Pedro,
permitir a vocês, outra vez, o milagre da perpetuação...

Que ele mereça de Deus as mesmas bençãos que o irmão,
que ele propicie a vocês as mesmas alegrias que o irmão,
que ele seja pra nós tão querido quanto o irmão,
que ele seja pro irmão o cúmplice fiel,
que o irmão seja pra ele o caminho seguro.

Ele é a vida que se renova e bate com força em nossas portas,
pois que entre e seja bem-vinda,
muito bem-vindo,
para sempre bem-vindos!

O amor é o de sempre,
o carinho é eterno.

Beijos nos corações,

Tio Ricardo"

Ao nosso lindo Gabriel

Parabéns pelos 3 aninhos!
Um beijo da mamãe, do papai e do Pedro.





Gabriel
Beto Guedes

É só de ninar e desejar que a luz do nosso amor
Matéria prima dessa canção fique a brilhar
E é pra você e pra todo mundo que quer trazer assim a paz no coração
Meu pequeno amor
E de você me lembrar
Toda vez que a vida mandar olhar pro céu
Estrela da manhã
Meu pequeno grande amor que é você Gabriel
Pra poder ser livre como a gente quis

domingo, 9 de maio de 2010

Às mães


Para Sempre
Carlos Drummond de Andrade


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

sábado, 10 de abril de 2010

Inclusão escolar

Vamos imaginar duas situações:

Primeira: Os pais de uma criança com necessidades especiais chegam a uma escola com a expectativa de matriculá-la e a diretora, cuidadosamente e um tanto constrangida, diz a eles que não está preparada para a inclusão e indica uma outra escola capaz de fazê-la, e muito bem.

Segunda: Os pais de uma criança com necessidades especiais chegam a uma escola com a expectativa de matriculá-la e, sem nenhuma dificuldade, são atendidos. Afinal, toda escola tem por obrigação matricular todas as crianças, incluindo as portadoras de deficiências. Passado algum tempo, tanto escola, quanto pais, constatam a falta de condições adequadas para atendê-la.

Eu pergunto:

Qual das duas escolas atende melhor as reais necessidades da criança?
Eu responderia que a primeira.
Mas certamente, a primeira seria alvo de muitos ataques.
O ideal, sem dúvida, é que já estivéssemos em uma sociedade capaz de oferecer a todos as mesmas oportunidades. Isso sim, na minha opinião, é a verdadeira inclusão.
A realidade, no entanto, é que estamos ainda bem longe disso. E muitas escolas acabam fazendo a inclusão sem condições materiais e humanas para issso. Nesta, eu não acredito.
Imaginem agora que aquela criança que foi, facilmente, matriculada na escola que não poderia jamais negar vaga a ela, com receio de ser vista como discriminatória, seja um menino de 7 anos, com Síndrome de Down. Foi para uma sala com outras crianças da mesma idade. Primeira série (hoje segundo ano). Todos, alguns com mais dificuldades, aprendendo a ler e escrever. Ele, ainda na fase da garatuja (quando a criança pega um lápis e risca desordenadamente). Na obra do psicólogo russo Lev Vygotsky, há um conceito bastante interessante e um dos mais importantes de sua teoria, que ele chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal. Seria o campo intermediário entre o desenvolvimento real (já consolidado pelo indivíduo) e o desenvolvimento potencial (ainda em processo). Por exemplo, uma criança de 4 anos já consegue colocar um cubo sobre outro para fazer uma torre (real). Uma de 3, está perto de conseguir, mas ainda precisa de alguma assistência (potencial). E um bebê de 8 meses não consegue nem mesmo com ajuda. Esperar de uma criança de 8 meses que faça uma torre de cubos é trabalhar fora da Zona de Desenvolvimento Proximal, já que ele ainda não tem as habilidades necessárias para uma tarefa como essa. E é justamente neste espaço que um professor deve trabalhar. Colocar uma criança que ainda não passou da garatuja, em uma sala de aula com outras crianças que estão começando a ler e escrever, é deixá-la totalmente fora desta Zona. Ela foi incluída na escola, mas não foi na sala de aula.
As escolas estarão preparadas para fazer a verdadeira inclusão quando fizerem por convicção, em respeito às suas próprias concepções e não, com receio de serem punidas ou julgadas. Por outro lado, é fazendo inclusão que estarão construindo novas concepções, mas não de forma tão impositiva. Uma mudança assim acontece gradualmente e não por meio da imposição de uma lei. Não são cursos rápidos com professores que vão prepará-los para receber crianças com necessidades especiais. Num mundo cada vez mais especializado, não se pode esperar dos professores que tenham, de uma hora para outra, conhecimento para trabalhar com crianças portadoras de deficiências.

Por ter muitas dúvidas a respeito da inclusão e por acreditar que elas são essenciais para a formação de qualquer convicção, eu deixo algumas questões para reflexão:

- O que será que a criança portadora de deficiência nos diria ou escolheria?
- Será que não existe um ponto de equilíbrio entre estas posições? A que exclui o deficiente e o coloca em espaços apenas reservados a ele e a que, ao contrário, o coloca ao lado das crianças normais (normais no sentido de maioria é claro), durante todo o tempo?
- Se fisioterapeutas, psicólogos e fonoaudiólogos precisam de especialização para atuar adequadamente, por que dos professores espera-se um conhecimento tão abrangente, de uma hora para a outra?
- A atitude da escola que indica uma outra com experiência em inclusão não está sendo humilde e realista, ao invés de insensível e preconceituosa?
- Por outro lado, será que ela está ao menos pensando nas diferenças e em como aprender a trabalhar com elas?
- Qual é o público-alvo da Educação Especial que passaria a ser, obrigatoriamente, matriculado nas escolas comuns de ensino regular?
- O que aconteceria com as escolas que se especializaram na Educação Especial?
- As crianças normais também precisam desta convivência para construir valores sólidos como solidariedade, tolerância, compaixão, cooperação e acima de tudo, respeito. Por que então, não se defende a inclusão como necessária também para elas?

domingo, 4 de abril de 2010

O jogo na escola

Há muitas comprovações de que jogando, as crianças raciocinam muito mais do que sentadas numa carteira escutando um professor que tenta, incansavelmente, transmitir a elas a maneira certa de resolver um problema matemático. Um jogo de regras consiste basicamente em uma situação-problema que deve ser solucionada pela criança para que atinja o objetivo principal que é ganhar o jogo. Para isso, precisa criar procedimentos, organizá-los em forma de estratégias e avaliá-los depois, em função dos resultados. Segundo a concepção piagetiana, uma pessoa só constrói conhecimento a partir da interação com o meio e o jogo de regras, com todas as suas características, é capaz de possibilitar essa troca, desafiando o raciocínio de quem joga. Na realidade, não o jogo em si, mas a forma como é trabalhado. Além disso, oferece a quem observa, pistas significativas de como a criança pensa, favorecendo uma intervenção mais adequada e, portanto, mais eficaz.
Quando os meios empregados para vencer o jogo não são eficazes, a criança tem a oportunidade de, avaliando seus erros, construir novas estratégias. Para fazer isso, ela precisa estabelecer relações lógicas fundamentais para a construção das noções matemáticas. As mesmas que muitas escolas insistem em transmitir prontas aos alunos, tirando deles qualquer possibilidade de construí-las. Precisa ainda, coordenar diferentes pontos de vista (que só a interação social permite), o que é fundamental para as descentrações tão necessárias à construção do pensamento operatório. A atividade com jogos contribui também para a concentração, a atenção, a cooperação, a disciplina, a organizaçõa. Aspectos que são importantes também para o bom desempenho nas tarefas escolares.

Com tantas qualidades, por que os jogos ainda são tão pouco utilizados como recurso pedagógico em sala de aula, mesmo naquelas das escolas ditas construtivistas?

Talvez, por várias razões:
1. Espera-se que uma grande transformação venha do alto e revolucione o ensino. Quando na verdade, a atitude de um professor, resultado da concepção que ele tem de infância, é o que pode haver de mais revolucionário na educação.
2. A maior parte dos professores não têm uma atitude autenticamente construtivista que lhes faça acreditar que há vários caminhos para se chegar a um mesmo resultado. E que cabe a cada um dos alunos buscar o seu. Isso é construção de conhecimento. A maioria ainda trata a matemática como conhecimento social a ser transmitido.
3. Ao entrar no ensino fundamental, é como se a criança perdesse a permissão que tinha até então para brincar. Precisa agora, levar a sério os estudos. Como se jogar não fosse coisa séria pra uma criança.
4. Muitos pais não aceitariam que seus filhos fossem à escola para jogar com os colegas. E com tanta concorrência, as escolas não querem perdê-los e tentam, sem sucesso, agradar a todos. O resultado é a enorme movimentação de alunos de uma escola para outra, a cada ano. Ou melhor, de pais em busca de alguma coisa, que na verdade, nem sabem ao certo o que é.
5. E a avaliação? Aquela para a qual praticamente toda a vida escolar está voltada. Como avaliar uma criança que passou grande parte do tempo jogando? Será que ela aprendeu alguma coisa? Como medir sem o auxílio dos exercícios burocráticos?

Conhecer desenvolvimento infantil e, mais especificamente, como o ser humano adquire conhecimento é tão importante como conhecer a matéria que se pretende ensinar. Porque não é suficiente que uma pessoa tenha condições para conhecer e aprender, é preciso que ela queira, que seja mobilizada para atingir um objetivo. E só será, se for respeitada e compreendida na sua natureza.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Bullying: uma pequena reflexão

"O termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying possíveis, o quadro, a seguir, relaciona algumas ações que podem estar presentes: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences."
Esta é a definição para bullying encontrada no bullying.com.br.
Não sou nenhuma especialista, mas vou arriscar algumas considerações, a partir do que tenho visto na mídia, no consultório e nas escolas. Em primeiro lugar, chamou a minha atenção a variedade de situações elencadas na conceituação acima, como possíveis ações ligadas ao bullying. Na minha opinião, essa falta de precisão favorece o tratamento inadequado que se tem dado a muitas atitudes absolutamente naturais da infância. E quando digo "absolutamente naturais", não quero dizer que não necessitem da intervenção dos educadores, sejam pais ou professores. Mais uma vez, valorizo a importância do nosso olhar. Uma coisa, é olhar para estas situações como fazendo parte de bullying (expressão americana que correu o mundo), em que, de um lado, estão os agressores, e de outro, as vítimas. Outra, é olhar para elas (situações) e ver ali, duas crianças, ou, dois lados, que precisam igualmente de orientação. Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
É comum escutarmos que o bullying sempre existiu (sem o nome, o que na minha opinião era uma vantagem), mas que com as proporções trágicas, como mortes e suicídios, e a falta de impunidade, passou a existir a necessidade de uma discussão mais profunda. Ao pensarmos assim, estamos misturando tudo num mesmo pacote. Talvez, o que sempre existiu, continue existindo. Claro, que com as mudanças consequentes das mudanças dos tempos. E a maior incidência atual de mortes e suicídios sejam consequência de outros problemas, e não um agravamento do que já existia. "Zoar" não pode fazer parte de um fenômeno que também inclui agressão física que pode até, levar à morte. Por que tanta necessidade de dar nome a tudo? O resultado é que atitudes humanas, que claro, precisam e merecem atenção e cuidado, passam a ser vistas como gestos criminosos que exigem intervenção rápida, rigorosa e punitiva. O trabalho preventivo dá lugar a uma urgência que só agrava e confunde tudo.
Mudar o olhar significa voltar-se para as crianças e adolescentes, para as suas necessidades, as suas peculiaridades, as suas vontades e (por que não?) também para a agressividade que está presente dentro deles (e de todos nós) e que faz parte da natureza humana. Aceitar essa agressividade é o primeiro passo para torná-la menos ameaçadora. Mudar o olhar significa preocupar-se mais em conhecer o desenvolvimento infantil e menos em acompanhar, pela mídia, notícias tratadas tão superficialmente.

domingo, 7 de março de 2010

Novo ensino fundamental

Este seria o ano para que escolas da rede pública terminassem de implementar o novo ensino fundamental de 9 anos. A lei federal, de 2005, tinha como objetivo principal garantir um ano a mais de escolarização, já que o ensino fundamental é obrigatório a todas as crianças. Estava previsto que, durante este período, as escolas se preparassem para receber a nova faixa etária, evitando que o conteúdo da antiga primeira série fosse apenas transferido para as crianças de seis anos do novo primeiro ano, sem as adaptações necessárias. Espaço físico (área de recreação, bebedouros, banheiros, carteiras, etc.) e propostas curriculares teriam que se adequar à nova faixa etária (eu pergunto de novo: não seria mais fácil investir no que já existe?). No entanto, as aulas começaram e parece que não foi isso o que aconteceu. Em muitas escolas, o primeiro ano continua exatamente como era a primeira série, com uma única diferença: estão sentadas nas carteiras, por longas cinco horas, crianças com apenas 6 anos de idade. A Secretaria de Educação de São Paulo, em reportagem da Folha de São Paulo, afirma que "à medida das necessidades e das diferentes demandas das diretorias de ensino serão encaminhados equipamentos para as escolas." Será que as crianças podem esperar por isso, considerando a burocracia que esse tipo de coisa exige, e justamente, num dos momentos mais delicados da vida escolar? Agora é torcer para não aumentar ainda mais o número de alunos que não aprendem e o que é pior, o número de encaminhamentos para os profissionais da saúde, como se o problema fosse deles (alunos). A boa notícia é que desta vez, será mais fácil para eles (profissionais) identificar onde é que está o problema.

terça-feira, 2 de março de 2010

As pulseirinhas de silicone deram o que falar

Vereadores de Navegantes (SC) aprovaram lei que proíbe o uso das pulseirinhas coloridas de silicone nas escolas municipais. Elas estariam sendo usadas pelos adolescentes para brincadeiras ligadas à sexualidade. A regra é a seguinte: o adolescente que consegue romper a pulseirinha de uma garota, tem direito a um prêmio que pode ir de um abraço a uma relação sexual, de acordo com a cor. A lei não prevê punição e nem define a quem cabe a fiscalização. Com apenas dois artigos, além da proibição do uso, ela obriga professores e diretores a se reunirem com os pais para esclarecimentos sobre a medida e orientações com relação a questões ligadas à sexualidade. O projeto, segundo o autor, vereador Marcos Paulo da Silva (PT), pretende "conscientizar sobre a conotação sexual que eles (os adereços) têm, e evitar a proliferação desse jogo. Para isso, precisamos ensinar aos pais, que conversarão com os filhos. Não queremos culpar alguém." Para o prefeito Roberto de Souza (PSDB), "com a brincadeira, crianças e adolescentes tem contato precoce com algumas experiências sexuais. Isso não é saudável. Sendo assim, sancionei a lei. Aprendi que devemos evitar (não é cortar?) o mal pela raiz."

Eu daria apenas 3 argumentos para não concordar com a aprovação da lei.

1. É desnecessária e inútil. As brincadeiras não são a causa do "contato precoce com experiências sexuais", mas manifestações. Sem pulseirinhas coloridas, os adolescentes rapidamente encontrarão outros adereços ou objetos que lhes permitam criar novos jogos.
2. Pulseirinhas tão coloridas e chamativas podem até ser um sinal (um bom sinal) de que querem conversar e não, um "mal" que precise ser cortado "pela raíz".
3. É provável que as regras do jogo não sejam levadas tão a sério pelos adolescentes e que muitos estejam usando os adereços apenas para seguir uma moda passageira. Uma lei como esta pode criar (ao invés de resolver, como pretende) um problema bem maior do que de fato existe.

Outros municípios estão pensando em aprovar leis como esta. Esse sim é um mal que precisa ser cortado pela raíz.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A maternidade e a democracia

Sempre que escuto discussões a respeito dos problemas do nosso país, e em especial, das relações políticas perversas e corruptas, eu tenho a mesma convicção: somente as crianças seriam capazes de construir, lá na frente, uma sociedade mais justa, se recebessem, hoje, uma educação que tivesse como prioridades uma formação moral sólida e um desenvolvimento emocional saudável. Essa convicção é, por um lado, consequência da minha formação profissional. Por outro, resultado da educação que recebi e da convivência com algumas pessoas que fui encontrando pelo caminho.
No ano passado, fui aluna de um curso que tinha como proposta, a leitura dirigida de alguns dos muitos capítulos da obra de Winnicott. Tive a sorte de usar todos os livros de um tio muito querido, que passou boa parte da vida estudando com profundidade toda a sua obra. Todos, repletos de anotações. É claro que o curso ficou bem mais gostoso do que teria sido se os tivesse comprado. Lia Winnicott e tio Adolfo ao mesmo tempo. Das pessoas que conheci, era uma das que mais valorizava e respeitava a relação de uma mãe com o seu bebê. Talvez, esteja aí a essência do pensamento de Winnicott.
Tudo isso, pra dizer um pouco do que aprendi com os dois (e com a maternidade, é claro) sobre "a contribuição da mãe para a sociedade" (nome de um dos capítulos da sua obra).


Winnicott, psicanalista inglês que estudou com profundidade a vida do bebê, ao tentar atribuir um significado psicológico ao termo democracia, sugere que uma sociedade verdadeiramente democrática é constituída por uma maioria de pessoas consideradas maduras do ponto de vista emocional. Para pensar numa sociedade democrática, portanto, seria preciso pensar nos seus membros individualmente. Maturidade da sociedade sugere maturidade de uma proporção ideal de membros saudáveis.
Para o autor, um indivíduo maduro é aquele que apresenta um grau satisfatório de desenvolvimento emocional compatível com sua idade cronológica e o meio em que vive. Esse desenvolvimento dependeria de um ambiente satisfatório, capaz de se adaptar às necessidades do bebê, fase em que o ser humano está num estado de dependência absoluta.
A mãe, segundo o psicanalista, seria a pessoa mais apta a assumir essa adaptação, em função de um estado de sensibilidade aumentada que ela desenvolve no final da gravidez e nas primeiras semanas de vida do bebê, e que Winnicott chamou de preocupação materna primária. Essa “doença normal” permite a ela identificar-se com seu filho e assim, reconhecer e atender suas verdadeiras necessidades. Ele considera possível que outras pessoas desenvolvam essa capacidade de identificação com o bebê. A diferença é que com a mãe isso pode se dar mais naturalmente. Se essa adaptação acontece de forma "suficientemente boa", o bebê consegue se desenvolver harmonicamente sem a necessidade de reagir a invasões do ambiente para as quais não está preparado. O desenvolvimento em direção à maturidade pode então prosseguir da maneira mais harmônica possível e a dependência absoluta vai dando lugar a uma dependência relativa, em que o bebê começa a perceber a realidade externa. Nesta transição, é importante que tenha início uma desadaptação gradual da mãe ao bebê, em que pequenas falhas suportáveis favoreçam este percurso.
Segundo Winnicott, o ser humano tem uma tendência natural a um padrão de vida democrático que para ser atendido, dependeria de uma provisão ambiental adequada. A sociedade, por sua vez, dependeria de uma proporção significativa de membros saudáveis, para se tornar um sistema verdadeiramente democrático.
Em qualquer sociedade ou comunidade, essa possibilidade pode ser comprometida em função da presença de indivíduos anti-sociais ou que têm uma tendência imatura a se identificar com a autoridade, para suprir uma insegurança interna. Winnicott considera que, em ambos os casos, embora neste último, de uma maneira oculta, a tendência anti-social está presente. E em nenhum deles, pode-se falar em pessoas inteiras capazes de construir uma sociedade democrática. Há ainda, os indivíduos que não se definiram. Para o autor, somente uma proporção suficientemente grande de seres saudáveis seria capaz de influenciar o maior número dos ”indeterminados”, incorporando-os a eles.
Para Winnicott, a tendência democrática não deve ser imposta a uma sociedade, mas deve nascer em ambientes que ele chamou de “bons lares comuns”. Os verdadeiros criadores da tendência democrática seriam então o homem e a mulher comuns, capazes de construir um lar saudável comum. A mãe, por meio da sua devoção no início da vida de seus filhos e o pai, oferecendo proteção para que ela consiga ser suficientemente boa em sua tarefa. A maneira como todas as outras pessoas podem contribuir é não interferindo, ou interferindo da forma menos invasiva possível na dinâmica natural deste arranjo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ensino Fundamental de 9 anos

Os antigos primário e ginásio, com duração de 8 anos, são hoje o ensino fundamental que, com a aprovação da lei 11.274 de fevereiro de 2006, é ampliado para 9 anos. Na prática, o último ano da educação infantil passa a ser o primeiro do ensino fundamental e, portanto, obrigatório. Primeira série é hoje segundo ano. Nós, adultos, precisamos de um tempo para pensar em ano e não mais em série. Para as crianças, é ainda mais complicado. Sei de um menino que passou um tempo pensando que estava na mesma série porque saiu de uma escola (particular) que já tinha adotado a nomenclatura nova e foi para uma pública, que deixou para fazê-lo em 2010 (prazo para as escolas se adequarem). Terminou o segundo ano na particular e começou a segunda série na pública (que na outra já se chamava terceiro ano).
O objetivo da ampliação é aumentar o tempo de escolaridade das crianças que entram direto no fundamental sem passar pela educação infantil. A idéia é boa. No entanto, fico na dúvida se as mudanças curriculares que, de acordo com o MEC se fazem necessárias, não farão com que as crianças sejam expostas precocemente ao ensino formal. Uma das respostas que encontrei na seção de dúvidas frequentes da Secretaria de Educação Básica foi a seguinte:

"21. O conteúdo do primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos é o conteúdo trabalhado no último ano da pré-escola de seis anos?

Não. A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, não tem como objetivo preparar crianças para o Ensino Fundamental; tem objetivos próprios que devem ser alcançados na perspectiva do desenvolvimento infantil respeitando, cuidando e educando crianças no tempo singular da primeira infância. No caso do primeiro ano do Ensino Fundamental a criança de seis anos, assim como as demais de sete a dez anos de
idade, precisam de uma proposta curricular que atenda suas características, potencialidades e necessidades específicas dessa infância."


Depois de ler, fiquei com uma dúvida ainda maior:
De acordo com a resposta, a Educação Infantil (o que inclui o seu último ano, hoje primeiro ano do fundamental) tinha como objetivo atender as particularidades daquela idade (6 anos). Objetivo que deve ser o mesmo para o primeiro ano do Fundamental de 9anos. O que é então que precisa ser mudado nas propostas curriculares, se as necessidades das crianças permanecem as mesmas, apesar das mudanças? Há inclusive um Referencial Nacional para a Educação Infantil, elaborado para auxiliar os educadores no trabalho com crianças até 6 anos. Há pouco tempo, perguntei à coordenadora de uma escola particular, no interior de São Paulo, se houve alguma mudança curricular com a introdução do fundamental de 9 anos. Ela respondeu que não, que era apenas uma questão de nomenclatura mesmo. Até porque, na rede privada, as crianças não dependem desta reestruturação para serem matriculadas aos 6 anos. Muito antes disso já estão frequentando as escolas. Não seria então mais conveniente investir na Educação Infantil que já existe, ampliando-a para que mais crianças da rede pública pudessem se beneficiar dela?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Zilda Arns em defesa da verdadeira cidadania

Lendo a coluna do Frei Beto desta semana na Folha de São Paulo, em que fala da Dra. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, um "detalhe" chamou a minha atenção, mais do que qualquer outra coisa. Ele diz que, no lançamento do programa Fome Zero, em 2003, ela foi contra a exigência de comprovação de gastos em alimentos, como garantia de que os beneficiários não destinassem para outras coisas o dinheiro recebido. Para ela, a exigência traria muito mais problemas do que soluções e gastos com fiscalização seriam melhor aplicados na educação, por exemplo. Esta tomada de posição, apoiada por Frei Beto, com quem trabalhou no programa, é na minha opinião um raro gesto de respeito ao ser humano. É uma valiosa demonstração de confiança que oferece às pessoas a oportunidade de serem honestas por escolha, e não por imposição. A auto estima de muitos brasileiros seria reforçada e muito provavelmente, escolheriam a honestidade em resposta. A nossa sociedade não tem a maturidade necessária para acatar uma decisão assim. Parece que ainda precisamos da vigilância e da punição. Uma posição como esta, tomada por Zilda Arns, mostra a visão libertária que ela tinha por trás de toda a ajuda concreta que a Pastoral oferece. Alguns dias depois de mudarmos para esta casa, ficamos sabendo que as empregadas domésticas eram revistadas quando passavam pela portaria na hora da saída. Aquilo nos incomodou muito e pedimos que a nossa empregada não fosse mais revistada, em nenhum momento. Era uma trabalhadora como qualquer um de nós e merecia o mesmo respeito. Acho que assim, com pequenas atitudes, no nosso pequeno espaço privado, podemos caminhar em direção a uma sociedade mais igualitária e, portanto, menos vigilante.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ainda sobre Dislexia

Há um comentário na postagem do dia 9/11 de uma pessoa que fala sobre um vídeo disponível no site da TV Câmara. Neste vídeo, o vereador Elizeu Gabriel recebe a Professora Maria Aparecida Moyses e a Presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo para discutirem a dislexia. Ela diz que, no final do vídeo, as entrevistadas apresentam um livro sobre Dislexia e que, a divulgação e a venda dele seriam o "real interesse da campanha" (palavras dela). Pelo que eu entendi (e isto está dito com todas as palavras na própria entrevista), não se trata de um livro, mas sim de um material com dois DVDs que contém as duas partes do debate que ocorreu na Câmara Municipal de São Paulo, em setembro. Inclusive, estão, integralmente, disponíveis no site do Conselho para download. Qualquer um pode ter acesso a eles, sem nenhum custo. Talvez, eu tenha assistido ao vídeo errado. Se há outro, gostaria de saber. Abaixo, está um link para quem quer assistir às entrevistas realizadas na TV Câmara, divididas em quatro partes. Assim, cada um pode tirar suas próprias conclusões.
http://tvcamarasp.com.br/eliseu_gabriel.htm