quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Uma observação

A discussão decorrente da postagem sobre dislexia (9/11) ainda não se esgotou. Depois de alguns dias sem comentários, há novas contribuições lá hoje.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Dias mágicos

Ontem, na sala de espera de um consultório médico, eu me sentei ao lado de uma senhora de uns 80 anos mais ou menos, que estava com seu marido e um filho que os acompanhava. Em pouco menos de meia hora, conversamos sobre chuvas, enchentes, violência, religião, filhos, doenças, etc. Ela não sabia muito bem em que estação do ano estávamos, se fazia frio ou calor. Eu disse que estávamos no verão e ela então se lembrou que era quase Natal, "não tem mais Natal como tinha antes né minha filha?". Começou a se lembrar das ceias que a mãe fazia, das roscas para o café da manhã do dia 25 e das broas de fubá com erva-doce, "nem em padaria tem mais minha filha, nunca mais comi daquelas broinhas, nunca mais". Perguntou se eu já tinha comido. Eu respondi que sim e disse a ela que, em Minas, ainda é possível encontrar coisas assim. "Ô minha filha, você bem que podia trazer umas broinhas pra mim né? Eu deixo meu telefone e daí quando você for na minha casa levar, eu te dou o dinheiro." O filho dela chegou perto pra ver o que é que estava se passando eu eu disse a ele que prometi a sua mãe, trazer de Minas, broinhas de fubá com erva-doce. Acho que essa meia hora fez bem a mim, mais do que a ela. Concordo que o Natal não é mais a mesma coisa. Antes, éramos crianças e dia de Natal era mágico. Lembro-me da montagem da árvore na casa da vovó, dos passeios com meus pais e meu irmão no centro da cidade do interior pra ver Papai Noel e as ruas enfeitadas com aquelas bolas gigantes. Não tinha shopping ainda. Todos, ricos e pobres, iam aos mesmos lugares pra fazer suas compras ou simplesmente, pra passear. Os presentes ficavam embrulhados e só podiam ser abertos na noite de Natal. Que bom se ansiedade fosse aquilo. Lembro-me do Manequinho, o primeiro boneco com pipi e tudo, que fazia xixi de verdade. Da Amélia, que vinha com tábua de passar roupa e ferro. Nem sei se ainda existe uma boneca assim. Ou com esse nome. Tinha também a Tippy com bicicleta e um cavalo de rodinhas. Lembro-me do meu avô bravo quando um de nós chegava atrasado. Das histórias de mocidade que ele contava milhões de vezes e que seria tão bom se pudéssemos escutar de novo. Na hora da ceia, ele dizia que talvez aquela fosse a última. No ano seguinte, estava ele lá, contando histórias e se despedindo mais uma vez. Antes da ceia, chorava quando escutava minha avó tocando o piano de calda que foi presente dele muitos anos antes. Lembro-me dos envelope$ gorduchos que ele preparava e esperava pra distribuir (um pra cada um) com a mesma ansiedade com que esperávamos para abrí-los. Da torta de bombas pretas e brancas que meus tios traziam da Brunella de São Paulo. Dos fios de ovos. Dos vizinhos que atravessavam pra dar Feliz Natal, dos parentes que não deixavam de dar uma passadinha. Do meu irmão de Papai Noel. Apesar da resistência de alguns (alguns poucos) que defendem um Natal menos comercial, Natal e Papai Noel são inseparáveis. Essa figura mágica está por todos os lados e, especialmente, na fantasia das crianças. Na minha casa, todos os anos, meus pais faziam um enfeite no jardim. Quase todos que passavam na porta, davam uma paradinha pra olhar. Talvez, o que chamasse tanto a atenção, era justamente a simplicidade. Não tinha Papai Noel subindo pelo telhado, meia, sino, nada disso. Apenas um Menino Jesus, pequeno, deitado numa manjedoura e bem pouco iluminado. Só isso. Singelo assim. Com essa imagem, sem nenhuma palavra, meus pais conseguiram nos transmitir algo mais essencial. Mas fizeram isso, sem tirar de nós a magia do Papai Noel, a graça dos presentes, os sabores das comidas e das bebidas. Eu desejo a todos um Natal com essa combinação. E que nossos filhos tenham, lá na frente, boas razões pra sentir saudades do Natal que passavam na infância.