quarta-feira, 17 de março de 2010

Bullying: uma pequena reflexão

"O termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying possíveis, o quadro, a seguir, relaciona algumas ações que podem estar presentes: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences."
Esta é a definição para bullying encontrada no bullying.com.br.
Não sou nenhuma especialista, mas vou arriscar algumas considerações, a partir do que tenho visto na mídia, no consultório e nas escolas. Em primeiro lugar, chamou a minha atenção a variedade de situações elencadas na conceituação acima, como possíveis ações ligadas ao bullying. Na minha opinião, essa falta de precisão favorece o tratamento inadequado que se tem dado a muitas atitudes absolutamente naturais da infância. E quando digo "absolutamente naturais", não quero dizer que não necessitem da intervenção dos educadores, sejam pais ou professores. Mais uma vez, valorizo a importância do nosso olhar. Uma coisa, é olhar para estas situações como fazendo parte de bullying (expressão americana que correu o mundo), em que, de um lado, estão os agressores, e de outro, as vítimas. Outra, é olhar para elas (situações) e ver ali, duas crianças, ou, dois lados, que precisam igualmente de orientação. Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
É comum escutarmos que o bullying sempre existiu (sem o nome, o que na minha opinião era uma vantagem), mas que com as proporções trágicas, como mortes e suicídios, e a falta de impunidade, passou a existir a necessidade de uma discussão mais profunda. Ao pensarmos assim, estamos misturando tudo num mesmo pacote. Talvez, o que sempre existiu, continue existindo. Claro, que com as mudanças consequentes das mudanças dos tempos. E a maior incidência atual de mortes e suicídios sejam consequência de outros problemas, e não um agravamento do que já existia. "Zoar" não pode fazer parte de um fenômeno que também inclui agressão física que pode até, levar à morte. Por que tanta necessidade de dar nome a tudo? O resultado é que atitudes humanas, que claro, precisam e merecem atenção e cuidado, passam a ser vistas como gestos criminosos que exigem intervenção rápida, rigorosa e punitiva. O trabalho preventivo dá lugar a uma urgência que só agrava e confunde tudo.
Mudar o olhar significa voltar-se para as crianças e adolescentes, para as suas necessidades, as suas peculiaridades, as suas vontades e (por que não?) também para a agressividade que está presente dentro deles (e de todos nós) e que faz parte da natureza humana. Aceitar essa agressividade é o primeiro passo para torná-la menos ameaçadora. Mudar o olhar significa preocupar-se mais em conhecer o desenvolvimento infantil e menos em acompanhar, pela mídia, notícias tratadas tão superficialmente.

domingo, 7 de março de 2010

Novo ensino fundamental

Este seria o ano para que escolas da rede pública terminassem de implementar o novo ensino fundamental de 9 anos. A lei federal, de 2005, tinha como objetivo principal garantir um ano a mais de escolarização, já que o ensino fundamental é obrigatório a todas as crianças. Estava previsto que, durante este período, as escolas se preparassem para receber a nova faixa etária, evitando que o conteúdo da antiga primeira série fosse apenas transferido para as crianças de seis anos do novo primeiro ano, sem as adaptações necessárias. Espaço físico (área de recreação, bebedouros, banheiros, carteiras, etc.) e propostas curriculares teriam que se adequar à nova faixa etária (eu pergunto de novo: não seria mais fácil investir no que já existe?). No entanto, as aulas começaram e parece que não foi isso o que aconteceu. Em muitas escolas, o primeiro ano continua exatamente como era a primeira série, com uma única diferença: estão sentadas nas carteiras, por longas cinco horas, crianças com apenas 6 anos de idade. A Secretaria de Educação de São Paulo, em reportagem da Folha de São Paulo, afirma que "à medida das necessidades e das diferentes demandas das diretorias de ensino serão encaminhados equipamentos para as escolas." Será que as crianças podem esperar por isso, considerando a burocracia que esse tipo de coisa exige, e justamente, num dos momentos mais delicados da vida escolar? Agora é torcer para não aumentar ainda mais o número de alunos que não aprendem e o que é pior, o número de encaminhamentos para os profissionais da saúde, como se o problema fosse deles (alunos). A boa notícia é que desta vez, será mais fácil para eles (profissionais) identificar onde é que está o problema.

terça-feira, 2 de março de 2010

As pulseirinhas de silicone deram o que falar

Vereadores de Navegantes (SC) aprovaram lei que proíbe o uso das pulseirinhas coloridas de silicone nas escolas municipais. Elas estariam sendo usadas pelos adolescentes para brincadeiras ligadas à sexualidade. A regra é a seguinte: o adolescente que consegue romper a pulseirinha de uma garota, tem direito a um prêmio que pode ir de um abraço a uma relação sexual, de acordo com a cor. A lei não prevê punição e nem define a quem cabe a fiscalização. Com apenas dois artigos, além da proibição do uso, ela obriga professores e diretores a se reunirem com os pais para esclarecimentos sobre a medida e orientações com relação a questões ligadas à sexualidade. O projeto, segundo o autor, vereador Marcos Paulo da Silva (PT), pretende "conscientizar sobre a conotação sexual que eles (os adereços) têm, e evitar a proliferação desse jogo. Para isso, precisamos ensinar aos pais, que conversarão com os filhos. Não queremos culpar alguém." Para o prefeito Roberto de Souza (PSDB), "com a brincadeira, crianças e adolescentes tem contato precoce com algumas experiências sexuais. Isso não é saudável. Sendo assim, sancionei a lei. Aprendi que devemos evitar (não é cortar?) o mal pela raiz."

Eu daria apenas 3 argumentos para não concordar com a aprovação da lei.

1. É desnecessária e inútil. As brincadeiras não são a causa do "contato precoce com experiências sexuais", mas manifestações. Sem pulseirinhas coloridas, os adolescentes rapidamente encontrarão outros adereços ou objetos que lhes permitam criar novos jogos.
2. Pulseirinhas tão coloridas e chamativas podem até ser um sinal (um bom sinal) de que querem conversar e não, um "mal" que precise ser cortado "pela raíz".
3. É provável que as regras do jogo não sejam levadas tão a sério pelos adolescentes e que muitos estejam usando os adereços apenas para seguir uma moda passageira. Uma lei como esta pode criar (ao invés de resolver, como pretende) um problema bem maior do que de fato existe.

Outros municípios estão pensando em aprovar leis como esta. Esse sim é um mal que precisa ser cortado pela raíz.