Há muitas comprovações de que jogando, as crianças raciocinam muito mais do que sentadas numa carteira escutando um professor que tenta, incansavelmente, transmitir a elas a maneira certa de resolver um problema matemático. Um jogo de regras consiste basicamente em uma situação-problema que deve ser solucionada pela criança para que atinja o objetivo principal que é ganhar o jogo. Para isso, precisa criar procedimentos, organizá-los em forma de estratégias e avaliá-los depois, em função dos resultados. Segundo a concepção piagetiana, uma pessoa só constrói conhecimento a partir da interação com o meio e o jogo de regras, com todas as suas características, é capaz de possibilitar essa troca, desafiando o raciocínio de quem joga. Na realidade, não o jogo em si, mas a forma como é trabalhado. Além disso, oferece a quem observa, pistas significativas de como a criança pensa, favorecendo uma intervenção mais adequada e, portanto, mais eficaz.
Quando os meios empregados para vencer o jogo não são eficazes, a criança tem a oportunidade de, avaliando seus erros, construir novas estratégias. Para fazer isso, ela precisa estabelecer relações lógicas fundamentais para a construção das noções matemáticas. As mesmas que muitas escolas insistem em transmitir prontas aos alunos, tirando deles qualquer possibilidade de construí-las. Precisa ainda, coordenar diferentes pontos de vista (que só a interação social permite), o que é fundamental para as descentrações tão necessárias à construção do pensamento operatório. A atividade com jogos contribui também para a concentração, a atenção, a cooperação, a disciplina, a organizaçõa. Aspectos que são importantes também para o bom desempenho nas tarefas escolares.
Com tantas qualidades, por que os jogos ainda são tão pouco utilizados como recurso pedagógico em sala de aula, mesmo naquelas das escolas ditas construtivistas?
Talvez, por várias razões:
1. Espera-se que uma grande transformação venha do alto e revolucione o ensino. Quando na verdade, a atitude de um professor, resultado da concepção que ele tem de infância, é o que pode haver de mais revolucionário na educação.
2. A maior parte dos professores não têm uma atitude autenticamente construtivista que lhes faça acreditar que há vários caminhos para se chegar a um mesmo resultado. E que cabe a cada um dos alunos buscar o seu. Isso é construção de conhecimento. A maioria ainda trata a matemática como conhecimento social a ser transmitido.
3. Ao entrar no ensino fundamental, é como se a criança perdesse a permissão que tinha até então para brincar. Precisa agora, levar a sério os estudos. Como se jogar não fosse coisa séria pra uma criança.
4. Muitos pais não aceitariam que seus filhos fossem à escola para jogar com os colegas. E com tanta concorrência, as escolas não querem perdê-los e tentam, sem sucesso, agradar a todos. O resultado é a enorme movimentação de alunos de uma escola para outra, a cada ano. Ou melhor, de pais em busca de alguma coisa, que na verdade, nem sabem ao certo o que é.
5. E a avaliação? Aquela para a qual praticamente toda a vida escolar está voltada. Como avaliar uma criança que passou grande parte do tempo jogando? Será que ela aprendeu alguma coisa? Como medir sem o auxílio dos exercícios burocráticos?
Conhecer desenvolvimento infantil e, mais especificamente, como o ser humano adquire conhecimento é tão importante como conhecer a matéria que se pretende ensinar. Porque não é suficiente que uma pessoa tenha condições para conhecer e aprender, é preciso que ela queira, que seja mobilizada para atingir um objetivo. E só será, se for respeitada e compreendida na sua natureza.
Quer casar comigo?
ResponderExcluirA criança aprende melhor brincando,isso é real! E, porque não incentivar os jogos educativos nas aulas de matemática,livrando-as do pesadelo que é a matéria em si!!!
ResponderExcluirGosto de suas reflexões!!!Um beijo.
Em que parte do seu blog está falando sobre o jogo em cubos para uma criança de oito meses (Piaget)?
ResponderExcluirFavor me envie algo a respeito no e-mail abaixo:
stellacampos@yahoo.com.br