Vamos imaginar duas situações:
Primeira: Os pais de uma criança com necessidades especiais chegam a uma escola com a expectativa de matriculá-la e a diretora, cuidadosamente e um tanto constrangida, diz a eles que não está preparada para a inclusão e indica uma outra escola capaz de fazê-la, e muito bem.
Segunda: Os pais de uma criança com necessidades especiais chegam a uma escola com a expectativa de matriculá-la e, sem nenhuma dificuldade, são atendidos. Afinal, toda escola tem por obrigação matricular todas as crianças, incluindo as portadoras de deficiências. Passado algum tempo, tanto escola, quanto pais, constatam a falta de condições adequadas para atendê-la.
Eu pergunto:
Qual das duas escolas atende melhor as reais necessidades da criança?
Eu responderia que a primeira.
Mas certamente, a primeira seria alvo de muitos ataques.
O ideal, sem dúvida, é que já estivéssemos em uma sociedade capaz de oferecer a todos as mesmas oportunidades. Isso sim, na minha opinião, é a verdadeira inclusão.
A realidade, no entanto, é que estamos ainda bem longe disso. E muitas escolas acabam fazendo a inclusão sem condições materiais e humanas para issso. Nesta, eu não acredito.
Imaginem agora que aquela criança que foi, facilmente, matriculada na escola que não poderia jamais negar vaga a ela, com receio de ser vista como discriminatória, seja um menino de 7 anos, com Síndrome de Down. Foi para uma sala com outras crianças da mesma idade. Primeira série (hoje segundo ano). Todos, alguns com mais dificuldades, aprendendo a ler e escrever. Ele, ainda na fase da garatuja (quando a criança pega um lápis e risca desordenadamente). Na obra do psicólogo russo Lev Vygotsky, há um conceito bastante interessante e um dos mais importantes de sua teoria, que ele chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal. Seria o campo intermediário entre o desenvolvimento real (já consolidado pelo indivíduo) e o desenvolvimento potencial (ainda em processo). Por exemplo, uma criança de 4 anos já consegue colocar um cubo sobre outro para fazer uma torre (real). Uma de 3, está perto de conseguir, mas ainda precisa de alguma assistência (potencial). E um bebê de 8 meses não consegue nem mesmo com ajuda. Esperar de uma criança de 8 meses que faça uma torre de cubos é trabalhar fora da Zona de Desenvolvimento Proximal, já que ele ainda não tem as habilidades necessárias para uma tarefa como essa. E é justamente neste espaço que um professor deve trabalhar. Colocar uma criança que ainda não passou da garatuja, em uma sala de aula com outras crianças que estão começando a ler e escrever, é deixá-la totalmente fora desta Zona. Ela foi incluída na escola, mas não foi na sala de aula.
As escolas estarão preparadas para fazer a verdadeira inclusão quando fizerem por convicção, em respeito às suas próprias concepções e não, com receio de serem punidas ou julgadas. Por outro lado, é fazendo inclusão que estarão construindo novas concepções, mas não de forma tão impositiva. Uma mudança assim acontece gradualmente e não por meio da imposição de uma lei. Não são cursos rápidos com professores que vão prepará-los para receber crianças com necessidades especiais. Num mundo cada vez mais especializado, não se pode esperar dos professores que tenham, de uma hora para outra, conhecimento para trabalhar com crianças portadoras de deficiências.
Por ter muitas dúvidas a respeito da inclusão e por acreditar que elas são essenciais para a formação de qualquer convicção, eu deixo algumas questões para reflexão:
- O que será que a criança portadora de deficiência nos diria ou escolheria?
- Será que não existe um ponto de equilíbrio entre estas posições? A que exclui o deficiente e o coloca em espaços apenas reservados a ele e a que, ao contrário, o coloca ao lado das crianças normais (normais no sentido de maioria é claro), durante todo o tempo?
- Se fisioterapeutas, psicólogos e fonoaudiólogos precisam de especialização para atuar adequadamente, por que dos professores espera-se um conhecimento tão abrangente, de uma hora para a outra?
- A atitude da escola que indica uma outra com experiência em inclusão não está sendo humilde e realista, ao invés de insensível e preconceituosa?
- Por outro lado, será que ela está ao menos pensando nas diferenças e em como aprender a trabalhar com elas?
- Qual é o público-alvo da Educação Especial que passaria a ser, obrigatoriamente, matriculado nas escolas comuns de ensino regular?
- O que aconteceria com as escolas que se especializaram na Educação Especial?
- As crianças normais também precisam desta convivência para construir valores sólidos como solidariedade, tolerância, compaixão, cooperação e acima de tudo, respeito. Por que então, não se defende a inclusão como necessária também para elas?
Tá certo que eu não sou a pessoa mais isenta para falar mas, na minha opinião, o tempo passa e você só faz melhorar!
ResponderExcluirCompartilho de suas idéias;ou a escola se prepara para receber pessoas com necessida-des especiais ou encaminhe para àquelas que têm condições de propiciar um atendimento de qualidade.
ResponderExcluirTomara que essa concientização aconteça no mais curto espaço de tempo.