domingo, 3 de julho de 2011

Pra Julia


É sempre a si mesmo e a seu sentimento que deve dar razão
contra toda explanação, comentário ou introdução dessa espécie.
Mesmo que se engane, o desenvolvimento natural da sua vida interior
há de conduzi-lo devagar, e com o tempo,
a outra compreensão.
Deixe a seus julgamentos sua própria e silenciosa evolução
sem a perturbar:
Como qualquer progresso,
ela deve vir do âmago do seu ser
e não pode ser reprimida ou acelerada por coisa alguma.
Tudo está em levar a termo e depois, dar à luz.
Deixar amadurecer inteiramente,
no âmago de si,
nas trevas do indizível e do inconsciente,
do inacessível a seu próprio intelecto,
cada impressão e cada germe de sentimento
e aguardar com profunda humildade e paciência
a hora do parto de uma nova claridade.
Aí o tempo não serve de medida:
um ano nada vale, dez anos não são nada.
Amadurecer como a árvore
que não apressa sua seiva
e enfrenta tranqüila as tempestades da primavera,
sem medo de que depois dela não venha nenhum verão.
O verão há de vir.
Mas virá só para os pacientes,
que aguardam num grande silêncio intrépido,
como se diante deles estivesse a eternidade.
Aprendo-o diariamente no meio de dores a que sou agradecido:
a paciência é tudo.


(Rainer Maria Rilke)