sábado, 16 de janeiro de 2010

Zilda Arns em defesa da verdadeira cidadania

Lendo a coluna do Frei Beto desta semana na Folha de São Paulo, em que fala da Dra. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, um "detalhe" chamou a minha atenção, mais do que qualquer outra coisa. Ele diz que, no lançamento do programa Fome Zero, em 2003, ela foi contra a exigência de comprovação de gastos em alimentos, como garantia de que os beneficiários não destinassem para outras coisas o dinheiro recebido. Para ela, a exigência traria muito mais problemas do que soluções e gastos com fiscalização seriam melhor aplicados na educação, por exemplo. Esta tomada de posição, apoiada por Frei Beto, com quem trabalhou no programa, é na minha opinião um raro gesto de respeito ao ser humano. É uma valiosa demonstração de confiança que oferece às pessoas a oportunidade de serem honestas por escolha, e não por imposição. A auto estima de muitos brasileiros seria reforçada e muito provavelmente, escolheriam a honestidade em resposta. A nossa sociedade não tem a maturidade necessária para acatar uma decisão assim. Parece que ainda precisamos da vigilância e da punição. Uma posição como esta, tomada por Zilda Arns, mostra a visão libertária que ela tinha por trás de toda a ajuda concreta que a Pastoral oferece. Alguns dias depois de mudarmos para esta casa, ficamos sabendo que as empregadas domésticas eram revistadas quando passavam pela portaria na hora da saída. Aquilo nos incomodou muito e pedimos que a nossa empregada não fosse mais revistada, em nenhum momento. Era uma trabalhadora como qualquer um de nós e merecia o mesmo respeito. Acho que assim, com pequenas atitudes, no nosso pequeno espaço privado, podemos caminhar em direção a uma sociedade mais igualitária e, portanto, menos vigilante.

6 comentários:

  1. Excelente! Meus parabéns. A conquista da autonomia moral e, consequentemente, da democracia é um trabalho duro, de muitos, dia após dia. E que trabalho, heim minha companheira? Tenho orgulho de tê-la ao meu lado nessa tarefa dioturna.

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  2. Adorei, Xan.
    Bjos.

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  3. Muito especial a sua colocação!!! Teríamos um mundo melhor se tivéssemos mais pessoas,com tais convicções!Lembro-me, quando revistavam as empregadas domésticas, e da sua revolta e atitude.Parabéns!Penso que o assunto é polêmico.
    O meu respeito à grande figura humana, que o Brasil acaba de perder. Um beijo.

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  4. Sim, são nos pequenos atos, almoçar com a faxineira, cumprimentar e conversar com o porteiro, levar café na noite fria, abrir a porta do elevador para a babá e conversar com ela, segurar a porta da entrada para a empregada de alguém no prédio, agradecer quando o faxineiro do prédio segura a porta para você, conhecer todos - sou péssimo com nomes, mas me esforço mais para decorar esses nomes que estão muito presentes no meu dia a dia, que não podem deixar de ser notados, jamais deveriam ser excluídos e principalmente ter aviltada a principal condição que nos iguala: sermos todos igualmente humanos.

    Felizmente, vivo em um prédio de gente muito legal e o convívio tanto entre os moradores quando com nossos funcionários é bastante respeitoso e igualitário.

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  5. Corrige lá pra mim vai, é diuturna e não dioturna. Oh, Dios!!!

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  6. O programa "Fome Zero", seguido pelo Bolsa Família, são programas de INCLUSÃO SOCIAL. São programas que visam dar dignidade a pessoas a quem o mercado de trabalho capitalista e ultra-especializado JAMAIS abriria suas portas. Essa inclusão social foi o grande "pulo-do-gato" que fez com que a crise neoliberal fosse transformada em "marolinha" aqui no Brasil.
    O que os "grandes" críticos dos programas sociais jamais imaginariam era que investindo 0,8% do PIB com inclusão social fosse muito mais potente para alavancar a economia do que investindo 6% dos gastos em juros da dívida pública.
    Tenho orgulho de ser colega de profissão e especialidade da Dra Zilda Arns (Pediatra), assim como colega de ideais.
    Perdemos uma ENORME brasileira!!

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