_ Você conhece o J. da sua escola?
_ De que ano?
_ Sétimo.
_ É um de cabelo bem raspadinho?
_ É. (a inicial do nome e as características da criança não são verídicas)
_ Conheço. Nossa, ele é tão chato mãe!
_ Por que?
_ Ah. Sei lá.
_ Você acha que ele é um aluno vulnerável a sofrer bullying?
_ Acho.
_ Por quê?
_ Ah. Todo mundo fica zoando com ele. Empurram.
_ E você sabia que ele tem uma inteligência acima da média?
_ É mesmo? Mas por que então ele ficou num monte de recuperação?
_ Porque alguma coisa está interferindo no desempenho dele. Não é por falta de capacidade.
_ Nossa! Mas parece que ele tem algum problema, sei lá.
_ Você sabia que pode jogar com ele de igual pra igual? Quatro em linha, combate, dama e até gamão. Ele tem um raciocínio lógico brilhante.
_ Sério?
_ Sério. Ele joga melhor que muitos alunos. Venceria muitos. Seria tão legal se os colegas pudessem conhecê-lo melhor né? Acho que iam se surpreender, você não acha? Que iam descobrir muitas coisas legais nele.
_ Poxa mãe. Vou dar um toque nos meus colegas pra pararem de zoar com ele.
_ Legal filho. Faz isso sim. Todos os lados vão ganhar. Vocês podem descobrir um amigo bem bacana. E olha, ele está sofrendo bastante, viu? Está se sentindo muito sozinho.
Esse é um papo que tive ontem com meu filho de 14 anos e que fez muito bem pra nós dois. Estou trazendo pra cá só pra ilustrar como a gente pode ajudar. E não ajudar quem sofre o "bullying" (entre aspas porque resisto aos rótulos que são cada vez mais utilizados para tratar questões tão amplas), mas os que cometem, ou os que podem vir a cometer ou ainda, os que apenas observam e não sabem o que fazer. E nem mesmo direito o que pensar. Os adolescentes, todos, precisam de mais informação. Não adianta recriminá-los quando acaba de ocorrer um episódio que pode caracterizar bullying. E daí separá-los em dois lados: o das vítimas e o dos vilões. É nos momentos de paz que precisamos conversar com eles para sensibilizá-los e sugerir que se coloquem no lugar de um outro. Na hora que a coisa acontece, as emoções estão à flor da pele e tudo fica muito nebuloso. Vamos perguntar a eles se têm algum colega que pode estar sofrendo, que pode estar triste, sozinho, sem amigos. Vamos escutar o que eles têm a nos dizer sobre tudo isso. E não esperar que cometam ou sofram violência (psicológica ou física) para só então chamá-los pra conversar. Eles esperam isso de nós. Eles gostam de falar sobre isso. Eles precisam. Todos eles. Os que estão agredindo precisam da mesma ajuda que precisam os que estão sendo agredidos. Se com este papo eu conseguir que meu filho sensibilize ao menos dois amigos, já fico muito feliz. Quem sabe esses dois façam o mesmo. E a rede cresce em proporção geométrica. Uma boa maneira de aplicar o conhecimento que a escola tenta transmitir.
sábado, 21 de maio de 2011
sexta-feira, 6 de maio de 2011
A elas

Por Bibi da Pieve
Do blog
Leve um casaquinho!
Recém-nascidas
É como se o mundo ficasse numa bandeja à parte, e a gente fosse se servindo de uma beliscada aqui, outra ali – mas o prato que está na nossa frente, aquele do sustento do dia-a-dia, é mesmo o bebê. Ou a maternidade.
Dizem sempre: “dá um trabalho danado, mas é maravilhoso”. Não é um trabalho “danado”. É um aluguel desmedido, coisa que exige total entrega. Digo isso sem a menor culpa porque é a mais pura verdade. Trabalho danado é escrever um livro. Amamentar e cuidar de um bebê é entrega. Tudo que há em você é derramado num copo, e o conteúdo é bebido (sugado) por aquela criaturazinha. Então você quer ser esperta, ou supermulher, ou seja lá o diabo da sua fantasia, e resolve se espremer um pouco para fazer sair mais algumas gotinhas – na esperança de “sobrar” um pouco.
Nada, não sobra nada. É 100% aproveitado pelo bebê, 24 horas por dia. Quanto maior você se achar, mais entrega haverá. Não sei mais o que é desperdício (de tempo ou de amor) e também não guardo nada: tudo é utilizado. E é freqüente a sensação de que preciso abastecer a despensa, senão me esvaio.
De outro lado, “maravilhoso” é um adjetivo que cabe, mas não preenche. Maravilhoso a gente usa até para um pato assado!
Quando olho para a minha filha, perco os caminhos lineares. Não existe olhar/sentir/pensar/formular/dizer. Não existe ordem, nem mesmo o processo de ordenar. É uma experiência tão direta – a mais direta que já conheci – que até me pergunto se posso chamar de experiência. Talvez seja outro tipo de oxigênio ou uma canção.
Um bocejo dela me boceja inteira, um choro me chora, um sorriso involuntário me transforma em alegria da cabeça aos pés. Como é que o budismo classificaria?
Não sei se vem dela ou de mim. Vai ver que vai de cada uma, somos recém-nascidas – a pequena, experimentando as primeiras sensações; a grande, desarticulando idéias. Não me sinto andando com as pernas, é como se alguma coisa lá pela garganta me guiasse.
Em vez de tropeçar, engasgo.
PS: A minha, até hoje, me fala pra não esquecer o casaquinho.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
A separação dos pais vivida pelos filhos
O texto abaixo foi escrito por uma adolescente, há mais ou menos um ano, quando seus pais decidiram se separar. Ao ler, fiquei muito comovida e impressionada com a qualidade literária. Pedi a ela que me autorizasse publicá-lo aqui, por acreditar que suas palavras tão carregadas de sentimentos pudesse nos ajudar a conhecer a vivência dolorosa e amendrontada dos filhos, quando há uma possibilidade de separação. E o mais bonito: não há no texto, nenhum tipo de julgamento aos pais. O que nos faz acreditar que o outro ponto de vista (o deles) tenha sido respeitado por ela, ou, ao menos, considerado, na hora de expressar sua experiência.
Obrigada por tornar um pouco nossa, a sua aprendizagem.
"18 anos de história, de felicidade, de vida, de casamento. E tudo acaba aqui, nessa noite abafada e desorientada .Estávamos atrás da porta, tentando ouvir o menor ruído que saísse daquela pequena fresta . Minha ansiedade finalmente falou mais alto, e resolvi fazer uma atuação barata alegando que estava cansada e com fome. Conseguia... sentir a frieza no ar, sentia o fim. Estava cansada, nervosa e com uma pequena pontada de medo. O medo só era pequeno porque eu tinha a ilusão de um final feliz. O ópio da ingenuidade, da ignorância, da futilidade. O medo.... O medo de ver a realidade. Atirei a primeira pedra.
“Fala logo se vocês vão se separar ou não, porque eu quero dormir”
As palavras saiam de minha boca sem ter noção das conseqüências. Como um suicídio precipitado. Palavras em vão, sem pensamento, sem sentimento. Já sabia o que ouviria a seguir,só tinha medo que eles repetissem para mim. Tinha medo de ouvir esse triste fim em voz alta.
“sim!sim!sim! Se você quer saber se a gente vai se separar, sim!” minha mãe disse aos berros deixando cair pequenas gotas de sua cerveja no chão.
Perdi todos os meus sentidos, quase que por um extinto animal estava no chão chorando toda a água existente no mesmo. Eu gritava, me arranhava, mas parecia que nada disso absorvia aquela dor. Essa dor completamente diferente de todas as dores que já senti. Algo novo, algo forte, algo que destrói. Todas as dores que naquele corpo já havia sentido, eram como cortes de papeis. Minha dor era um tiro no peito, só que não existia médico que a tratasse. Um tiro que não iria se cicatrizar.
Acordei com esses olhos inchados que não eram meus, um olhar apagado que não era o meu. Eu era alguém, que não era eu. A podridão interior conseguiu dominar a exterior. A alegria que antes reinava, agora não reina mais. Os risos que se abrochavam, agora murcham. E os rios de lágrimas, que antes eram secos, agora inundam. Quem é você? Quem é esse ser que sou eu, e não sou? O que serás que serás?
E aquela viola, que antes me entendiava, agora me salvava. E ao ouvir os primeiros acordes, o meu corpo foi simultaneamente se entregando a essa força. Tocava com uma precisão que nunca houve antes. E no meio de toda aquela escuridão, uma chama calorosa foi acesa. Nesse momento eu me senti como se o médico sempre ali parado, fizesse algo. Por mas que não saturado, meu corpo lentamente se restabelecia. E o remédio ali aplicado, tinha nome e sobrenome. Não pronunciava, mas aqueles olhos azuis que me olhavam de forma penetrante lentamente me curavam. Logo, os olhos foram se tornando um rosto, que se tornou um busto, que se tornou um corpo. Um corpo que de forma assustada me encarava indevidamente preocupada. Reconheci-o de imediato, aquela era ela, era aquela que me cura. Marina freire, esse é o seu nome. Esse é o meu remédio."
Obrigada por tornar um pouco nossa, a sua aprendizagem.
"18 anos de história, de felicidade, de vida, de casamento. E tudo acaba aqui, nessa noite abafada e desorientada .Estávamos atrás da porta, tentando ouvir o menor ruído que saísse daquela pequena fresta . Minha ansiedade finalmente falou mais alto, e resolvi fazer uma atuação barata alegando que estava cansada e com fome. Conseguia... sentir a frieza no ar, sentia o fim. Estava cansada, nervosa e com uma pequena pontada de medo. O medo só era pequeno porque eu tinha a ilusão de um final feliz. O ópio da ingenuidade, da ignorância, da futilidade. O medo.... O medo de ver a realidade. Atirei a primeira pedra.
“Fala logo se vocês vão se separar ou não, porque eu quero dormir”
As palavras saiam de minha boca sem ter noção das conseqüências. Como um suicídio precipitado. Palavras em vão, sem pensamento, sem sentimento. Já sabia o que ouviria a seguir,só tinha medo que eles repetissem para mim. Tinha medo de ouvir esse triste fim em voz alta.
“sim!sim!sim! Se você quer saber se a gente vai se separar, sim!” minha mãe disse aos berros deixando cair pequenas gotas de sua cerveja no chão.
Perdi todos os meus sentidos, quase que por um extinto animal estava no chão chorando toda a água existente no mesmo. Eu gritava, me arranhava, mas parecia que nada disso absorvia aquela dor. Essa dor completamente diferente de todas as dores que já senti. Algo novo, algo forte, algo que destrói. Todas as dores que naquele corpo já havia sentido, eram como cortes de papeis. Minha dor era um tiro no peito, só que não existia médico que a tratasse. Um tiro que não iria se cicatrizar.
Acordei com esses olhos inchados que não eram meus, um olhar apagado que não era o meu. Eu era alguém, que não era eu. A podridão interior conseguiu dominar a exterior. A alegria que antes reinava, agora não reina mais. Os risos que se abrochavam, agora murcham. E os rios de lágrimas, que antes eram secos, agora inundam. Quem é você? Quem é esse ser que sou eu, e não sou? O que serás que serás?
E aquela viola, que antes me entendiava, agora me salvava. E ao ouvir os primeiros acordes, o meu corpo foi simultaneamente se entregando a essa força. Tocava com uma precisão que nunca houve antes. E no meio de toda aquela escuridão, uma chama calorosa foi acesa. Nesse momento eu me senti como se o médico sempre ali parado, fizesse algo. Por mas que não saturado, meu corpo lentamente se restabelecia. E o remédio ali aplicado, tinha nome e sobrenome. Não pronunciava, mas aqueles olhos azuis que me olhavam de forma penetrante lentamente me curavam. Logo, os olhos foram se tornando um rosto, que se tornou um busto, que se tornou um corpo. Um corpo que de forma assustada me encarava indevidamente preocupada. Reconheci-o de imediato, aquela era ela, era aquela que me cura. Marina freire, esse é o seu nome. Esse é o meu remédio."
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
"Temos desterrado a alegria
A terra de onde ela nasce foi asfaltada
O cimento que a asfixia está composto de tédio, abulia, aborrecimento, desesperança.
Não é a tristeza a responsável por amordaçar a alegria.
Tampouco a angústia. Ao contrario, sentir angústia é a prova de que por debaixo do cimento ainda resta terra fértil.
Terra úmida, húmus humano por onde possa brotar a autoria que irá rachando o cimento.
Pelo pavimento do tédio se deslizam facilmente a frustração, a anorexia, a bulimia, a inibição cognitiva, a "síndrome do pânico” e as drogas (as ilegais e também as receitadas).
E os meninos, brincando à intempérie da asfaltada frustração dos maiores, talvez busquem com `inquietude´, `hiperatividade´ e ` desatenção´ algo de terra debaixo do alcatrão.
O conhecer, escutar, perguntar, abrir os olhos, falar. Podem fazer sofrer, mas não matar aalegria já que a alegria é o reconhecermos com a possibilidade de mudar e mudar-nos.
Esconder, fechar os olhos, tapar os ouvidos, calar, encapsular, medicamentar... translada, desloca a dor e adoece.
O contrário da alegria não e a tristeza, mas o aborrecimento, o omitir-se, o desaparecer.
A Alegria não é algo "light" que nos infantiliza, senão a força que permite a potencia criativa, incisiva e indiscreta da criança que extraviamos na busca pelo êxito adulto."
Fragmentos sobre la alegría y el aprendizaje
Alicia Fernández
“Psicopedagogia em psicodrama"
Editora Vozes, 2000.
A terra de onde ela nasce foi asfaltada
O cimento que a asfixia está composto de tédio, abulia, aborrecimento, desesperança.
Não é a tristeza a responsável por amordaçar a alegria.
Tampouco a angústia. Ao contrario, sentir angústia é a prova de que por debaixo do cimento ainda resta terra fértil.
Terra úmida, húmus humano por onde possa brotar a autoria que irá rachando o cimento.
Pelo pavimento do tédio se deslizam facilmente a frustração, a anorexia, a bulimia, a inibição cognitiva, a "síndrome do pânico” e as drogas (as ilegais e também as receitadas).
E os meninos, brincando à intempérie da asfaltada frustração dos maiores, talvez busquem com `inquietude´, `hiperatividade´ e ` desatenção´ algo de terra debaixo do alcatrão.
O conhecer, escutar, perguntar, abrir os olhos, falar. Podem fazer sofrer, mas não matar aalegria já que a alegria é o reconhecermos com a possibilidade de mudar e mudar-nos.
Esconder, fechar os olhos, tapar os ouvidos, calar, encapsular, medicamentar... translada, desloca a dor e adoece.
O contrário da alegria não e a tristeza, mas o aborrecimento, o omitir-se, o desaparecer.
A Alegria não é algo "light" que nos infantiliza, senão a força que permite a potencia criativa, incisiva e indiscreta da criança que extraviamos na busca pelo êxito adulto."
Fragmentos sobre la alegría y el aprendizaje
Alicia Fernández
“Psicopedagogia em psicodrama"
Editora Vozes, 2000.
sábado, 29 de janeiro de 2011
Não há manual para educar filhos
Quando morávamos em São Paulo, nosso primeiro filho, que hoje está com 14 anos, dormia todos os dias no carrinho, passeando por Higienópolis. Eu adorava aqueles nossos passeios noturnos. Quando viemos para o interior, o balanço do carrinho foi substituído pelo da rede na varanda. Se estávamos na casa da avó, sem rede e sem Higienópolis, saíamos de carro pra dar uma volta pela cidade. O segundo filho, hoje com três anos, resiste menos para dormir. Mas teve também sua fase de pegar no sono rodando de carro. Escutei muita música e pensei muito na vida nessas voltinhas. Era gostoso pra mim também. Não acho que estes hábitos tenham causado algum mal. Nunca gostei da literatura que dá receitas de como educar o seu bebê. Faça assim e assado para que seu filho: durma a noite inteira; largue chupeta e mamadeira; não chore de madrugada; mame no peito nas horas certas; coma tudo; etc, etc, etc. Muitas vezes, as fórmulas “mágicas” são extremamente burocráticas e trabalhosas. Você desiste antes mesmo de tentar. Além disso, elas desconsideram as peculiaridades de cada família. Não dá pra exigir, por exemplo, soluções que exijam disciplina e organização, de um casal boêmio. Sugerir que o casal mude de vida? É uma possibilidade. Mas essa mudança levaria tempo e talvez não desse para aplicar os resultados na educação do bebê, que cresce tão rapidamente. O que é ideal pra uma família pode não ser para outra. Há bebês que não querem chupeta. O meu primeiro não quis. Já o irmão, aceitou de cara e ainda precisa dela pra dormir. Tá na hora de largar? Tá. Mas isso vai acontecer já já. Talvez por isso, dormir tenha sido mais fácil pra ele. Lembro que o mais velho acordava às vezes de madrugada pronto pra brincar. O mais novo, se acorda, pega sua “pepê” e logo em seguida, pega no sono novamente. Filhos dos mesmos pais, mas em momentos diferentes. Tivemos o segundo com quase quarenta, e a chupeta, tão pouco recomendada, foi uma bênção. Uma grande aliada. Não há regras rígidas. Não deveria haver receitas. É claro, que o bom senso é sempre bem vindo. Subir e descer o elevador milhões de vezes para o bebê dormir, é extrapolar. Quantas mães são orientadas, burocraticamente, a dar tantas mamadas por dia, de tanto em tanto tempo, sentadas na postura tal, durante tantos meses, olhando e sorrindo carinhosamente para o bebê. "O leite materno é insubstituível e deve ser dado até os seis meses, impreterivelmente". Quantas noites a mãe está sem dormir, se está exausta, se os bicos do seio estão rachados, nada disso importa. Nestes casos, será que não seria preferível uma boa troca entre ela e o bebê, com mamadeira e não seios? Será que não seria mais benéfico do que o leite materno a qualquer custo? Há mães que conseguem, resignadamente, passar por tudo isso e garantir as mamadas até os seis meses. Mas há outras que não conseguem e precisam (e podem) encontrar um outro caminho. Muitas vezes, a orientação de um profissional é necessária. Mas ela só deveria ser dada depois de muito escutar a família. Não se pode pedir aos pais, mudanças que dificilmente conseguiriam cumprir. Isso só traria culpa e mais ansiedade, podendo até acentuar as queixas que os levaram a buscar ajuda. Um casal deve ser estimulado a acreditar que os recursos pra educar um filho estão dentro dele e não nos milhares de manuais que há por aí. Certamente, irão errar em muitas situações. Mas um tanto de condições adversas também pode contribuir para um desenvolvimento saudável.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Rock'n'Roll Lullaby
Uma canção tão singela e que traduz tão bem o amor entre as mães e seus filhos.
Não há como não ser, profundamente, tocada por ela.
E na voz doce da Fernanda Takai fica ainda mais especial.
(tentei encontrar um vídeo de melhor qualidade, mas não achei. Por enquanto, vai este mesmo)
(tradução abaixo)
Rock And Roll Lullaby
She was just sixteen and all alone
When I came to be
So we grew up together
My mama child and me
Now things were bad and she was scared
But whenever I would cry
She'd calm my fears and dry my tears
With a rock and roll lullaby
And she would sing sha na na na na na na na ...
It will be all right sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Now just hold on tight
Sing it to me mama (mama mama ma)
Sing it sweet and clear, oh!
Mama let me hear that old rock and roll lullaby
Now we made it through the lonely days
But Lord the nights were long
And we’d dream of better moments
When mama sang her song
Now I can't recall the words at all
It don't make sense to try
'Cause I just knew lots of love came thru
In that rock and roll lullaby
And she'd sing sha na na na na na na na
It will be all right
Sha na na na na na na na
Now just hold on tigh
I can hear you mama, mama, mama, mama
nothing loose my soul
like the sound of the good old rock and roll lullaby
Rock And Roll de Ninar
Ela tinha apenas 16 anos e completamente sozinha
Quando eu nasci.
Então nós crescemos juntos,
Minha mãezinha-criança e eu
Agora as coisas estavam ruins e ela estava assustada
Mas sempre que eu chorava,
Ela acalmava meus medos e enxugava minhas lágrimas
com um rock de ninar
E ela cantava sha na na na na na na na ...
Vai ficar tudo bem sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Agora aguente firme
Cante para mim mamãe, [ mamãe]
Cante isto de forma doce e pura, oh!
Mamãe deixe-me ouvir aquele velho rock de ninar
Nós fazemos isto durantes os dias solitários
Mas, Senhor, as noites eram longas.
E nós sonhávamos com manhãs melhores
Quando mamãe cantava a canção.
Agora eu não consigo lembrar as palavras de jeito nenhum,
Não faz sentido tentar
Pois eu simplesmente sabia que muito amor vinha através
Daquele rock de ninar.
E ela cantava sha na na na na na na na
Vai ficar tudo bem
Sha na na na na na na na
Agora me segure firme
Eu posso te ouvir mamãe
Nada cura minha alma
como o som do bom velho Rock de Ninar
Não há como não ser, profundamente, tocada por ela.
E na voz doce da Fernanda Takai fica ainda mais especial.
(tentei encontrar um vídeo de melhor qualidade, mas não achei. Por enquanto, vai este mesmo)
(tradução abaixo)
Rock And Roll Lullaby
She was just sixteen and all alone
When I came to be
So we grew up together
My mama child and me
Now things were bad and she was scared
But whenever I would cry
She'd calm my fears and dry my tears
With a rock and roll lullaby
And she would sing sha na na na na na na na ...
It will be all right sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Now just hold on tight
Sing it to me mama (mama mama ma)
Sing it sweet and clear, oh!
Mama let me hear that old rock and roll lullaby
Now we made it through the lonely days
But Lord the nights were long
And we’d dream of better moments
When mama sang her song
Now I can't recall the words at all
It don't make sense to try
'Cause I just knew lots of love came thru
In that rock and roll lullaby
And she'd sing sha na na na na na na na
It will be all right
Sha na na na na na na na
Now just hold on tigh
I can hear you mama, mama, mama, mama
nothing loose my soul
like the sound of the good old rock and roll lullaby
Rock And Roll de Ninar
Ela tinha apenas 16 anos e completamente sozinha
Quando eu nasci.
Então nós crescemos juntos,
Minha mãezinha-criança e eu
Agora as coisas estavam ruins e ela estava assustada
Mas sempre que eu chorava,
Ela acalmava meus medos e enxugava minhas lágrimas
com um rock de ninar
E ela cantava sha na na na na na na na ...
Vai ficar tudo bem sha na na na na na....
Sha na na na na na na na ...
Agora aguente firme
Cante para mim mamãe, [ mamãe]
Cante isto de forma doce e pura, oh!
Mamãe deixe-me ouvir aquele velho rock de ninar
Nós fazemos isto durantes os dias solitários
Mas, Senhor, as noites eram longas.
E nós sonhávamos com manhãs melhores
Quando mamãe cantava a canção.
Agora eu não consigo lembrar as palavras de jeito nenhum,
Não faz sentido tentar
Pois eu simplesmente sabia que muito amor vinha através
Daquele rock de ninar.
E ela cantava sha na na na na na na na
Vai ficar tudo bem
Sha na na na na na na na
Agora me segure firme
Eu posso te ouvir mamãe
Nada cura minha alma
como o som do bom velho Rock de Ninar
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Por que sempre procuramos um vilão?
Este vídeo, feito para uma Campanha da Cruz Vermelha da Catalunha, foi premiado em 2006, no Primeiro Festival Internacional de Comunicação Infantil. O festival tem como objetivo premiar a publicidade infantil criativa e responsável, além de criar fóruns de reflexão sobre esta fatia do mercado publicitário. Publicidade infantil é toda aquela que tem a criança como público alvo para determinado produto ou serviço. Iniciativas como esta propõem discutir maneiras para regulamentar a publicidade infantil, sem ter que simplesmente proibí-la, como se isto fosse possível num mundo tão globalizado e capitalista. Será que não é mais realista investirmos no fortalecimento das crianças para que consigam reagir da melhor forma possível às tentações da mídia, ao invés de remar contra a maré, querendo exterminá-las?
O trailler a seguir é do documentário "Criança, a alma do negócio" que foi feito com o objetivo de mostrar a perversidade da publicidade infantil. Será que é mesmo a mídia a principal vilã da história como pretende mostrar o documentário? Eu, sinceramente, não reconheci meus filhos ali. Por isso, penso que deve haver muitas outras razões para que uma criança se torne tão consumista e consequentemente, tão permeável à publicidade direcionada a ela. Mas, com certeza, é mais cômodo tirarmos de nós a responsabilidade.
O vídeo está inteiro no youtube e dividido em 6 partes:
http://www.youtube.com/watch?v=dX-ND0G8PRU&feature=related
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Show de lançamento do livro-cd "História pra boi casar"
Adorei!
História pra boi casar
Alessandra Roscoe
ilustração de Mariana Zanetti
Editora Peirópolis
"Neste livro-CD, o segundo da coleção Livro & Música, a escritora Alessandra Roscoe conta a história do boi de cara amarela que foge para casar-se com a vaca, aquela mesma que pulou a janela. A história foi inspirada em cantigas de ninar que embalaram muitas infâncias e no bumba-meu-boi do folclorista maranhense Teodoro Freire, que há cinco décadas mantém viva a tradição do bumba-meu-boi na região de Brasília, onde mora a autora. Depois de conhecê-lo, Alessandra vestiu seu personagem com a roupagem do folguedo popular e "casou o boi" ao som de pandeiros, maracás e do tambor de onça dos cantantes de Teodoro, dando origem também ao CD, em um feliz encontro com a cultura popular brasileira."
http://www.editorapeiropolis.com.br/detalhe.php?cod=228
Parte 1
Parte 2
História pra boi casar
Alessandra Roscoe
ilustração de Mariana Zanetti
Editora Peirópolis
"Neste livro-CD, o segundo da coleção Livro & Música, a escritora Alessandra Roscoe conta a história do boi de cara amarela que foge para casar-se com a vaca, aquela mesma que pulou a janela. A história foi inspirada em cantigas de ninar que embalaram muitas infâncias e no bumba-meu-boi do folclorista maranhense Teodoro Freire, que há cinco décadas mantém viva a tradição do bumba-meu-boi na região de Brasília, onde mora a autora. Depois de conhecê-lo, Alessandra vestiu seu personagem com a roupagem do folguedo popular e "casou o boi" ao som de pandeiros, maracás e do tambor de onça dos cantantes de Teodoro, dando origem também ao CD, em um feliz encontro com a cultura popular brasileira."
http://www.editorapeiropolis.com.br/detalhe.php?cod=228
Parte 1
Parte 2
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Quando não tem ninguém olhando
Tenho escutado de muitas pessoas que votar em um dos candidatos, é ser conivente com o vale- tudo das campanhas e com os casos de corrupção, antigos e recentes (estes, bem mais lembrados). Não tenho dúvidas em relação à trajetória absolutamente íntegra da ex-candidata Marina Silva. Mas tenho dúvidas, e muitas (acho até, que tenho a certeza absoluta do contrário) de que ela, na presidência, conseguiria livrar nossa nação destas práticas tão indesejáveis. Não acredito que isto vá acontecer num movimento de fora para dentro. Mas sim, em consequência de uma transformação profunda em nossa sociedade. Lenta, gradual e pela qual cada um de nós é responsável. O problema do desvio moral, na minha opinião, é de toda a sociedade. Está presente em muitas práticas aparentemente irrelevantes de todos nós. Os exemplos são infinitos: um comercinate erra no troco, te dá dinheiro a mais e você não fala nada; você sabe que não pode jogar lixo no chão, não tem ninguém olhando e você joga; você sai com seu cachorro para passear, ele faz cocô na calçada do outro e você finge que não viu; você precisa transferir seu carro, mas sua documentação não está em ordem e você paga para um despachante dar um jeitinho; você sabe que vai ter um evento concorrido na sua cidade e usa seus contatos para conseguir acesso privilegiado. Acredito que serão necessárias ainda muitas gerações para que a nossa sociedade seja predominantemente (nunca totalmente) constituída por sujeitos que tenham uma formação moral sólida e, portanto, refratária a situações que privilegiem a sua vida pessoal em detrimento da coletividade. Eu não espero ver nos próximos quatro anos o fim da corrupção na política. Não tenho mesmo essa ilusão. Mas quero, neste momento, tomar partido. E tomar partido é escolher o lado que mais se aproxima das minhas convicções. Mesmo sabendo que tomar partido é correr o risco de, daqui a quatro anos, ter que assumir o erro da minha escolha, se este for o caso. Dilma. 13. Este é o lado que escolhi.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Maria Rita Kehl
A psicanalista Maria Rita Kehl foi mesmo demitida do jornal O Estado de São Paulo, onde era colunista desde fevereiro deste ano. O motivo teria sido a coluna publicada um dia antes do primeiro turno, em que comenta a decisão editorial do jornal de apoiar a candidatura de José Serra à Presidência e faz uma análise sobre a "desqualificação" dos votos dos mais pobres. (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php)
O trecho abaixo é de um dos belíssimos ensaios desta, que é uma das nossas mais brilhantes intelectuais e que o Estadão acaba de perder. A sua liberdade de se expressar pode ter sido confrontada, mas não a nossa de acompanhá-la. Eu tive o privilégio de participar de um grupo de estudos em psicanálise, supervisionado por ela, quando estava no quarto ano de faculdade. Desde então, nunca mais a perdi de vista.
"Masculino/Feminino: O Olhar da Sedução
Maria Rita Kehl
O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo. Caçada silenciosa entre dois olhares; captura numa rede perigosa de palavras. Jogo arriscado e fascinante ─ angústia e gozo ─ onde o vencedor não sabe o que fazer de seu troféu e o perdedor só abe que perdeu seu rumo; um jogo cuja única possibilidade de empate se chama amor.
Essa abordagem parte do ponto de vista do aparente perdedor ─ o seduzido─ já que é ele quem nos deixa registro sobre sua experiência. É o seduzido que se expressa ─ na poesia, na literatura, nos consultórios de psicanálise. É o seduzido que tenta compreender a transformação que se deu nele ao mesmo tempo em que tenta entender o poder do olhar sedutor. O que significa Odete para Swann? De que encanto o seduzido é presa, ele não sabe dizer. O sedutor é o que não revela. Mas revela alguma coisa ─o quê? ─ sobre o seduzido.
“Ai ioiô... eu nasci pra sofrer/fui olhar pra você, meus olhinhos fechou./ E quando os olhos eu abri/quis gritar, quis fugir/mas você, eu não sei por quê/você me chamou”... Que o seduzido está fascinado por alguma espécie de perigo, é certo. O risco mais óbvio seria o do abandono ─ “seduzido (a) e abandonado (a): não é assim que se diz? Mas ainda falta saber por que o abandono parece se inscrever sempre na experiência da sedução ─ e em que lugar tão ermo o seduzido é deixado, que lugar tão inóspito e este em que ele se sente como se estivesse sendo deixado para morrer.
A experiência da sedução é diferente da do apaixonamento ─ embora uma contenha a outra, e vice-versa! E bem mais diferente da experiência do amor que conta com a reciprocidade, com a entrega mútua onde dois caminham juntos por terrenos mais ou menos (mais no menos!) conhecidos O seduzido não sabe onde pisa─ e pensa que o sedutor sabe. Antecipa prazer e dor, pois, ao mesmo tempo em que espera o gozo prometido pelo sedutor, já sabe que se aproxima uma catástrofe. O seduzido é alguém que perde o rumo e tem que se guiar, nas brumas de uma infância revisitada, pela bússola do olhar sedutor.
Não se pode dizer que o seduzido ame o sedutor ─ ele é seu prisioneiro. Talvez odeie mais do que ame ─ “mas não deixo de querer conquistar/uma coisa qualquer em você/que será?” A conquista do sedutor é a esperança de libertação do seduzido, já que o sedutor parece possuir a chave dos enigmas que o aprisionam: o que você vê em mim que eu não vejo? O que você sabe de mim que eu não sei? O que você deseja em mim que eu não domino, ao mesmo tempo em que o seu olhar me diz que eu não possuo? Que dom seu olhar tem o poder de criar em mim para o seu desejo?
Escravidão da sedução: eu só possuo o dom para o seu desejo enquanto você o vê em mim. Sou eu escravo ─ou não sou nada. E o poeta seduzido suplica: ‘Oh minha amada que olhos os teus/quem dera um dia, quisesse Deus/eu visse um ida o olhar mendigo/ da poesia nos olhos teus” ─ sabendo que o olhar mendigo da poesia é o seu próprio; implorando a algum deus a graça de ver este olhar pedinte no rosto da amada, pois quem pede se revela: revela carência. Se o olhar da amada mendigasse, deixaria de ser inacessível, indecifrável, “ cais noturno cheios de adeus’. O poeta conhece o naufrágio da sedução."
(Do livro “O Olhar” Adauto Novaes)
O trecho abaixo é de um dos belíssimos ensaios desta, que é uma das nossas mais brilhantes intelectuais e que o Estadão acaba de perder. A sua liberdade de se expressar pode ter sido confrontada, mas não a nossa de acompanhá-la. Eu tive o privilégio de participar de um grupo de estudos em psicanálise, supervisionado por ela, quando estava no quarto ano de faculdade. Desde então, nunca mais a perdi de vista.
"Masculino/Feminino: O Olhar da Sedução
Maria Rita Kehl
O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo. Caçada silenciosa entre dois olhares; captura numa rede perigosa de palavras. Jogo arriscado e fascinante ─ angústia e gozo ─ onde o vencedor não sabe o que fazer de seu troféu e o perdedor só abe que perdeu seu rumo; um jogo cuja única possibilidade de empate se chama amor.
Essa abordagem parte do ponto de vista do aparente perdedor ─ o seduzido─ já que é ele quem nos deixa registro sobre sua experiência. É o seduzido que se expressa ─ na poesia, na literatura, nos consultórios de psicanálise. É o seduzido que tenta compreender a transformação que se deu nele ao mesmo tempo em que tenta entender o poder do olhar sedutor. O que significa Odete para Swann? De que encanto o seduzido é presa, ele não sabe dizer. O sedutor é o que não revela. Mas revela alguma coisa ─o quê? ─ sobre o seduzido.
“Ai ioiô... eu nasci pra sofrer/fui olhar pra você, meus olhinhos fechou./ E quando os olhos eu abri/quis gritar, quis fugir/mas você, eu não sei por quê/você me chamou”... Que o seduzido está fascinado por alguma espécie de perigo, é certo. O risco mais óbvio seria o do abandono ─ “seduzido (a) e abandonado (a): não é assim que se diz? Mas ainda falta saber por que o abandono parece se inscrever sempre na experiência da sedução ─ e em que lugar tão ermo o seduzido é deixado, que lugar tão inóspito e este em que ele se sente como se estivesse sendo deixado para morrer.
A experiência da sedução é diferente da do apaixonamento ─ embora uma contenha a outra, e vice-versa! E bem mais diferente da experiência do amor que conta com a reciprocidade, com a entrega mútua onde dois caminham juntos por terrenos mais ou menos (mais no menos!) conhecidos O seduzido não sabe onde pisa─ e pensa que o sedutor sabe. Antecipa prazer e dor, pois, ao mesmo tempo em que espera o gozo prometido pelo sedutor, já sabe que se aproxima uma catástrofe. O seduzido é alguém que perde o rumo e tem que se guiar, nas brumas de uma infância revisitada, pela bússola do olhar sedutor.
Não se pode dizer que o seduzido ame o sedutor ─ ele é seu prisioneiro. Talvez odeie mais do que ame ─ “mas não deixo de querer conquistar/uma coisa qualquer em você/que será?” A conquista do sedutor é a esperança de libertação do seduzido, já que o sedutor parece possuir a chave dos enigmas que o aprisionam: o que você vê em mim que eu não vejo? O que você sabe de mim que eu não sei? O que você deseja em mim que eu não domino, ao mesmo tempo em que o seu olhar me diz que eu não possuo? Que dom seu olhar tem o poder de criar em mim para o seu desejo?
Escravidão da sedução: eu só possuo o dom para o seu desejo enquanto você o vê em mim. Sou eu escravo ─ou não sou nada. E o poeta seduzido suplica: ‘Oh minha amada que olhos os teus/quem dera um dia, quisesse Deus/eu visse um ida o olhar mendigo/ da poesia nos olhos teus” ─ sabendo que o olhar mendigo da poesia é o seu próprio; implorando a algum deus a graça de ver este olhar pedinte no rosto da amada, pois quem pede se revela: revela carência. Se o olhar da amada mendigasse, deixaria de ser inacessível, indecifrável, “ cais noturno cheios de adeus’. O poeta conhece o naufrágio da sedução."
(Do livro “O Olhar” Adauto Novaes)
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Por favor, seu RG, CPF e CID
Muitos psicólogos infantis (espero que a maioria) têm questionado a quantidade de diagnósticos precipitados que se tem feito atualmente, especialmente os de déficit de atenção, com ou sem hiperatividade, e os de dislexia. Para agravar ainda mais esta tendência, os planos de saúde, que agora são obrigados a cobrir sessões de psicoterapia, exigem o código da doença do beneficiário, encontrado numa Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID–10). Para cada doença, há um código correspondente. As operadoras têm procedimentos diferentes, mas em geral, para conseguir delas a autorização para o acompanhamento psicológico, o usuário precisa de uma guia com o diagnóstico (CID) e o número de sessões recomendadas. Prescrição esta, feita por médicos e não pelos próprios psicólogos (favorecimento da classe médica?). A cobertura ou não das sessões vai depender da doença diagnosticada, ou melhor, do código. A quantas o usuário terá direito (variam de 12 a 40 sessões por ano), também vai depender deste número, que vai ainda determinar se o atendimento precisa ser feito por um psicólogo ou se pode ser feito por médicos habilitados e já credenciados no plano. Nestes casos, as operadoras não precisariam contratar psicólogos para cumprir a exigência. Há operadoras, por exemplo, que não têm nenhum psicólogo em sua rede credenciada, com o argumento de que a resolução normativa 167 da ANS, que amplia o Rol de Ações de Saúde, não impõe a contratação de psicólogos, desde que haja médicos habilitados para garantir o cumprimento da lei. Curioso é que a mesma resolução determina que alguns códigos (CID) prevêem que o tratamento seja necessariamente feito por psicólogos.
Entre tantas informações e interpretações, fico com as seguintes questões:
1. Será que um psiquiatra, por mais experiente que seja, consegue, em uma consulta, dar um bom diagnóstico?
2. Devemos necessariamente fazer parte de uma classificação nosológica para precisarmos de um acompanhamento psicológico?
3. Será que não é prejudicial a uma criança e a sua família sair de uma consulta com um código que atribui unicamente a ela uma doença ou um transtorno?
4. Caso o médico explique que o CID colocado na guia tem o objetivo apenas de justificar a cobertura das sessões, não estará contribuindo para desvirtuar um dos objetivos do CID-10 (10, porque a publicação está na sua décima edição), que é promover estatísticas relacionadas à morbidade e mortalidade?
5. E os casos em que há sofrimento psíquico sem, no entanto, haver uma classificação para ele? Ou seja, os tratamentos preventivos na área da saúde psíquica continuam excluídos do Rol?
Sem dúvida, um grande avanço. Mas há muito ainda pra se discutir.
Entre tantas informações e interpretações, fico com as seguintes questões:
1. Será que um psiquiatra, por mais experiente que seja, consegue, em uma consulta, dar um bom diagnóstico?
2. Devemos necessariamente fazer parte de uma classificação nosológica para precisarmos de um acompanhamento psicológico?
3. Será que não é prejudicial a uma criança e a sua família sair de uma consulta com um código que atribui unicamente a ela uma doença ou um transtorno?
4. Caso o médico explique que o CID colocado na guia tem o objetivo apenas de justificar a cobertura das sessões, não estará contribuindo para desvirtuar um dos objetivos do CID-10 (10, porque a publicação está na sua décima edição), que é promover estatísticas relacionadas à morbidade e mortalidade?
5. E os casos em que há sofrimento psíquico sem, no entanto, haver uma classificação para ele? Ou seja, os tratamentos preventivos na área da saúde psíquica continuam excluídos do Rol?
Sem dúvida, um grande avanço. Mas há muito ainda pra se discutir.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Mais um projeto de lei
Foi encaminhado esta semana para o Legislativo, um projeto de lei que proíbe os pais de darem castigos corporais, como palmadas e beliscões. As penas para os infratores serão as mesmas já previstas no ECA: advertência, encaminhamento a programas de proteção à família, orientação psicológica, e até mesmo perda de guarda. Será necessário o testemunho de terceiros que façam a denúncia ao Conselho Tutelar. Segundo uma das articuladoras do movimento que levou a proposta ao governo, o projeto tem como objetivo acabar com a cultura da palmada.
No texto, castigo corporal é definido como "ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente". No dicionário, palmada é "pancada com a palma". Pancada, por sua vez, é "agressão física por meio de socos, tapas, etc". Mas e a "palmada" na palma da mão da criança? O famoso tapinha na mão. E a palmada no bumbum, ou melhor, na fralda? Aquelas, que nem exigiram tanta "força física" assim e nem resultaram em "dor ou lesão". Os antigos costumavam falar que serviam pra tirar pó. Serão também enquadradas nos castigos corporais sujeitos a penas? São o quê afinal? Pancadas? Palmadas? Tapas? Agressões físicas? Castigos? "Tratamento cruel e degradante"?
Não estou de forma alguma defendendo estas ações. Sempre achei que devem ser evitadas de todas as maneiras. Nunca fui uma defensora das palmadas. Ao contrário. Estou apenas tentando entender o alcance da lei e a sua aplicabilidade. Eu acharia mais interessante um projeto de lei que, por exemplo, obrigasse as escolas a tratarem, com profundidade, temas como estes, ao invés de usarem tanto tempo das reuniões com organização de festas ou questões puramente burocráticas. A informação pode levar os pais a mudanças de atitude com muito mais eficácia do que a imposição por meio de leis como esta.
Além disso, se o objetivo do projeto é evitar que as crianças sofram violência física e psicológica, muitas outras leis teriam que ser criadas para proteger as crianças dos adultos. Conheço pais que não autorizam o filho a fazer aula de teatro na escola porque teatro é coisa de "bicha". Conheço outros que proíbem o filho de brincar com o vizinho, com o argumento de que não é boa companhia. O Motivo? Pertencer à família de uma religião que "atrai o demônio". Sim. Sou contra a palmada, mas também, contra este tipo de constrangimento e discriminação. Neste caso, a violência atinge não só o filho, mas também outras pessoas.
Precisamos antes discutir o que é privado e o que é público. Quando é que o privado deve passar a ser público e quando é que deve manter-se privado. Caso contrário, já já um projeto de lei vai exigir a instalação de câmeras também dentro das nossas casas. Vamos sim discutir a violência doméstica. Acho até que trazer este tema para o debate é o lado bom de um projeto assim. Mas não vamos tratar o problema como algo que se resolve com a imposição de uma lei. E nem nos esquecer que os pais continuam sendo os maiores protetores de seus filhos. Violência é colocar uma lei como esta no meio deles. Galinha não mata pinto. Com raríssimas exceções.
No texto, castigo corporal é definido como "ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente". No dicionário, palmada é "pancada com a palma". Pancada, por sua vez, é "agressão física por meio de socos, tapas, etc". Mas e a "palmada" na palma da mão da criança? O famoso tapinha na mão. E a palmada no bumbum, ou melhor, na fralda? Aquelas, que nem exigiram tanta "força física" assim e nem resultaram em "dor ou lesão". Os antigos costumavam falar que serviam pra tirar pó. Serão também enquadradas nos castigos corporais sujeitos a penas? São o quê afinal? Pancadas? Palmadas? Tapas? Agressões físicas? Castigos? "Tratamento cruel e degradante"?
Não estou de forma alguma defendendo estas ações. Sempre achei que devem ser evitadas de todas as maneiras. Nunca fui uma defensora das palmadas. Ao contrário. Estou apenas tentando entender o alcance da lei e a sua aplicabilidade. Eu acharia mais interessante um projeto de lei que, por exemplo, obrigasse as escolas a tratarem, com profundidade, temas como estes, ao invés de usarem tanto tempo das reuniões com organização de festas ou questões puramente burocráticas. A informação pode levar os pais a mudanças de atitude com muito mais eficácia do que a imposição por meio de leis como esta.
Além disso, se o objetivo do projeto é evitar que as crianças sofram violência física e psicológica, muitas outras leis teriam que ser criadas para proteger as crianças dos adultos. Conheço pais que não autorizam o filho a fazer aula de teatro na escola porque teatro é coisa de "bicha". Conheço outros que proíbem o filho de brincar com o vizinho, com o argumento de que não é boa companhia. O Motivo? Pertencer à família de uma religião que "atrai o demônio". Sim. Sou contra a palmada, mas também, contra este tipo de constrangimento e discriminação. Neste caso, a violência atinge não só o filho, mas também outras pessoas.
Precisamos antes discutir o que é privado e o que é público. Quando é que o privado deve passar a ser público e quando é que deve manter-se privado. Caso contrário, já já um projeto de lei vai exigir a instalação de câmeras também dentro das nossas casas. Vamos sim discutir a violência doméstica. Acho até que trazer este tema para o debate é o lado bom de um projeto assim. Mas não vamos tratar o problema como algo que se resolve com a imposição de uma lei. E nem nos esquecer que os pais continuam sendo os maiores protetores de seus filhos. Violência é colocar uma lei como esta no meio deles. Galinha não mata pinto. Com raríssimas exceções.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Do filme "Paris, te amo"
Sensível, sutil, triste...
ZAKOCHANY PARYŻ - LOIN DU 16e - Walter Salles & Daniela Thomas
ZAKOCHANY PARYŻ - LOIN DU 16e - Walter Salles & Daniela Thomas
quarta-feira, 23 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Deliciosas brincadeiras do Pato Fu
Música de Brinquedo é nome do novo disco do Pato Fu, que será lançado logo depois da copa. A banda escolheu canções antigas e bem conhecidas do público adulto, por acreditar que teriam mais impacto do que se fossem inéditas. Todas foram gravadas com instrumentos de brinquedo. Uma prova do resultado está nos dois vídeos que os mineiros disponibilizaram em seu site.
Adorei...
Adorei...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Delícias do irmão do Pedro
Falando no seu celular de brinquedo:
"Oi tio Carlão. Eu esqueci minha bola aí. Você manda por e-mail?"
Para o amiguinho da mesma idade que me chamou de tia:
"Ela não é tia ô, ela é mãe."
Passamos em uma casa cheia de bexigas na varanda e ele diz:
Acho que vai ter festa aí mamãe. Vai todo mundo. Todos os vovôs, todas as vovós, todas as mamães, todos os papais, todos os Pedros...."
Descobrindo o plural:
"Olha mãe, todos os meninos estão descendos."
(vários meninos estavam descendo a rua, em direção ao parquinho)
O amigo de 4 anos pergunta a ele:
"Gabriel, qual a sua cor preferida?"
Ele responde:
"Colorido."
Para os amigos que estão brincando de massinha com ele:
"Que cor você quer levanta a mão!"
Chego perto dele depois de passar perfume e ele diz:
"Tô escutando um cheiro!"
terça-feira, 1 de junho de 2010
Vigilância X Autonomia
Um projeto de lei, em discussão no Congresso, obriga todas as escolas de Educação Infantil (particulares e públicas) a instalar câmeras de monitoramento, com o objetivo (manisfesto) de reprimir os casos de violência na primeira infância. Segundo Foucault, em "Vigiar e Punir", para a economia do poder, é muito mais rentável vigiar do que punir. Por meio da vigilância, evita-se que as pessoas cometam atos ilícitos e sejam punidas depois. Função que as câmeras colocadas nas escolas cumpririam muito bem. No entanto, nada seria mais incoerente com o objetivo maior da educação, que é a conquista de autonomia moral e intelectual. Estamos sempre dizendo às crianças que devem fazer ou deixar de fazer certas coisas, única e exclusivamente, por considerá-las corretas ou não, e não para fugir de punições ou em busca de recompensas. Estas mesmas crianças assistem à instalação de um sistema de monitoramento que pretende, justamente, vigiar adultos para puní-los depois, se for o caso. E bem no espaço onde começam a ser confrontadas com valores morais importantes para a convivência humana (respeito, justiça, cooperação, responsabilidade, etc.) e onde, portanto, deveriam exercitá-los. Qual será o significado que essas crianças darão ao termo confiança, crescendo em ambientes tão vigiados? Como pode? Tanta contradição. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Carta do tio Ricardo
Gabriel,
Há 3 anos, seu tio Ricardo escreveu esta carta pra você.
Sem dúvida alguma, fomos novamente abençoados.
"Veio pra aquecer o nosso inverno,
alegrar a vida dos avós,
recompensar toda a espera do Pedro,
permitir a vocês, outra vez, o milagre da perpetuação...
Que ele mereça de Deus as mesmas bençãos que o irmão,
que ele propicie a vocês as mesmas alegrias que o irmão,
que ele seja pra nós tão querido quanto o irmão,
que ele seja pro irmão o cúmplice fiel,
que o irmão seja pra ele o caminho seguro.
Ele é a vida que se renova e bate com força em nossas portas,
pois que entre e seja bem-vinda,
muito bem-vindo,
para sempre bem-vindos!
O amor é o de sempre,
o carinho é eterno.
Beijos nos corações,
Tio Ricardo"
Há 3 anos, seu tio Ricardo escreveu esta carta pra você.
Sem dúvida alguma, fomos novamente abençoados.
"Veio pra aquecer o nosso inverno,
alegrar a vida dos avós,
recompensar toda a espera do Pedro,
permitir a vocês, outra vez, o milagre da perpetuação...
Que ele mereça de Deus as mesmas bençãos que o irmão,
que ele propicie a vocês as mesmas alegrias que o irmão,
que ele seja pra nós tão querido quanto o irmão,
que ele seja pro irmão o cúmplice fiel,
que o irmão seja pra ele o caminho seguro.
Ele é a vida que se renova e bate com força em nossas portas,
pois que entre e seja bem-vinda,
muito bem-vindo,
para sempre bem-vindos!
O amor é o de sempre,
o carinho é eterno.
Beijos nos corações,
Tio Ricardo"
Ao nosso lindo Gabriel
Parabéns pelos 3 aninhos!
Um beijo da mamãe, do papai e do Pedro.
Gabriel
Beto Guedes
É só de ninar e desejar que a luz do nosso amor
Matéria prima dessa canção fique a brilhar
E é pra você e pra todo mundo que quer trazer assim a paz no coração
Meu pequeno amor
E de você me lembrar
Toda vez que a vida mandar olhar pro céu
Estrela da manhã
Meu pequeno grande amor que é você Gabriel
Pra poder ser livre como a gente quis
Um beijo da mamãe, do papai e do Pedro.
Gabriel
Beto Guedes
É só de ninar e desejar que a luz do nosso amor
Matéria prima dessa canção fique a brilhar
E é pra você e pra todo mundo que quer trazer assim a paz no coração
Meu pequeno amor
E de você me lembrar
Toda vez que a vida mandar olhar pro céu
Estrela da manhã
Meu pequeno grande amor que é você Gabriel
Pra poder ser livre como a gente quis
domingo, 9 de maio de 2010
Às mães

Para Sempre
Carlos Drummond de Andrade
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
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