terça-feira, 22 de novembro de 2011
"SIGOTA MÃ DIUMACATA"
"SIGOTA MÃ DIUMA CATA"
"Se gostar mande uma carta"
Lembra disso Pedro? Você estava começando a escrever. Eu gostei muito meu filho. E aqui está ela. A minha carta. Uma carta simples pra dizer que eu adorei esse mundo que você desenhou na contracapa do meu caderno. Que eu adorei o adesivo de flor que você fez pra mim, e que eu coloquei na outra contracapa (você fazia adesivos pra vender lembra?). Uma carta simples pra dizer que eu adorei a casa cheia de alegria durante todos estes anos. Pra dizer o quanto eu gostei das suas notas. E muito mais do que das suas notas, o quanto eu gosto da sua sensibilidade. Da maneira ética e discreta como você se relaciona com as pessoas. Da sua capacidade de fazer amigos e cuidar bem deles. Uma carta simples pra dizer que eu não mudaria nada em você. Que é você assim, desse jeitinho, que nós amamos tanto. Pra dizer o quanto eu fico feliz por você gostar tanto de música. Por ser tocado pelas desigualdades do mundo. E por querer tanto um mundo melhor pra todos. Pra agradecer pela paciência que você teve com a chegada de um irmão, depois de tanto tempo sendo o único. Pra dizer que só o tempo disponível é que foi dividido entre vocês. Mas não o amor. Pra dizer que eu vou torcer sempre pelo seu sucesso, mas muito mais pela sua felicidade. Pra pedir desculpas pelos momentos de impaciência e de cansaço. Pelas broncas que eu não deveria ter dado. Pela ausência em momentos que você precisava de maior presença. E pra dizer que eu vou torcer muito pra que você conheça o mundo inteiro que você desenhou naquele dia.
Uma carta pra dizer que eu te amo muito.
Parabéns pelos 15 anos e pela formatura!
A música que te leva de volta pro "Nosso Cantinho".
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Afinal, o que é que está precisando de conserto?
Imaginem a seguinte situação: uma criança de 12 anos vai a uma sessão de psicoterapia da irmã mais velha, a pedido da psicóloga. Ao final da sessão, ela (a psicóloga) chama a mãe para dizer que seu filho é hiperativo e pergunta se ninguém havia lhe dito isto antes. Encaminha a criança a um psiquiatra. Ou melhor, AO psiquiatra. O que ela conhece e em quem diz confiar muito. Os pais marcam a consulta e levam o filho alguns dias depois, quando o médico já tem em mãos um relatório daquela psicóloga, onde é provável que tenha o diagnóstico de hiperatividade. Digo provável porque os pais não tiveram acesso a este documento e, portanto, não conhecem o seu conteúdo. O psiquiatra conversa com os dois e observa a criança enquanto dura a consulta. Isto parece ser o suficiente para que confirme o diagnóstico. Entrega a eles uma receita de “concerta” (pelo menos não é com “s”), estimulante do sistema nervoso central que é utilizado para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), embora o mecanismo de ação terapêutica neste transtorno não seja conhecido. Pede que retornem 15 dias depois para que possam definir um possível aumento da dosagem.
Pois bem. Isto aconteceu. Esta mãe chegou ao meu consultório encaminhada pela escola do garoto que considerou precipitado o diagnóstico feito pela psicóloga e confirmado pelo psiquiatra. Veio antes do retorno a ele, por ter ficado confusa com as divergências de opiniões. Geralmente, a família procura estes profissionais quando a escola faz o encaminhamento, por não saber mais como lidar com um aluno, em função de comportamento agitado, desatento, indisciplinado. Não foi o caso. O que, na minha avaliação, dá pontos a esta escola. Isto demonstra que ela dá conta da diversidade de alunos que possui, sem ter a expectativa de que todos sejam bem comportados e obedientes.
A psicóloga deu o diagnóstico de hiperatividade, em função do comportamento do garoto, naquele curto espaço de tempo, dentro das quatro paredes do seu consultório. O psiquiatra confirmou o diagnóstico pela mesma razão e após ler o relatório que recebeu dela e de alguns professores da escola. Entre estes, é consenso que o aluno é bastante agitado em sala de aula. No entanto, em nenhum momento algum deles pediu à Coordenação que ele fosse encaminhado a um especialista.
Acho muito provável que esta criança preencha os critérios do DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos Mentais) para TDAH. Ou seja, é possível que apresente os seis ou mais (dos nove) sintomas de desatenção e/ou hiperatividade necessários para a confirmação do diagnóstico, segundo este manual (por sinal, na minha opinião alguns deles deveriam ser considerados o mesmo, mas isso vale uma outra postagem). Ainda segundo o DSM, é necessário que estes sintomas persistam “por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento”. É preciso ainda que algum prejuízo causado por eles esteja presente em dois ou mais contextos e “deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.” Ou seja, será que estes dois profissionais tiveram tempo pra garantir todas essas condições?
O que eles sabem dessa criança, da escola dessa criança, dessa criança na escola, dessa criança com os pais, dos pais dessa criança? De como ela se desenvolveu, do que sente, do que faz e o que sonha? Das qualidades que ela tem, das reações que provocam nela, de como ela brinca com os amigos, de como é quando não está agitada num consultório com pessoas desconhecidas? Acho que quase nada. Mas querem consertá-la. Ou melhor, conCertá-la. O que me indigna é que quem está fazendo isto com as crianças é justamente quem deveria protegê-las dos estigmas. Elas não têm autonomia e vão pra onde são levadas. E correm o risco de se tornarem aquilo que outros vêem nelas. Sem conhecê-las.
Pois bem. Isto aconteceu. Esta mãe chegou ao meu consultório encaminhada pela escola do garoto que considerou precipitado o diagnóstico feito pela psicóloga e confirmado pelo psiquiatra. Veio antes do retorno a ele, por ter ficado confusa com as divergências de opiniões. Geralmente, a família procura estes profissionais quando a escola faz o encaminhamento, por não saber mais como lidar com um aluno, em função de comportamento agitado, desatento, indisciplinado. Não foi o caso. O que, na minha avaliação, dá pontos a esta escola. Isto demonstra que ela dá conta da diversidade de alunos que possui, sem ter a expectativa de que todos sejam bem comportados e obedientes.
A psicóloga deu o diagnóstico de hiperatividade, em função do comportamento do garoto, naquele curto espaço de tempo, dentro das quatro paredes do seu consultório. O psiquiatra confirmou o diagnóstico pela mesma razão e após ler o relatório que recebeu dela e de alguns professores da escola. Entre estes, é consenso que o aluno é bastante agitado em sala de aula. No entanto, em nenhum momento algum deles pediu à Coordenação que ele fosse encaminhado a um especialista.
Acho muito provável que esta criança preencha os critérios do DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos Mentais) para TDAH. Ou seja, é possível que apresente os seis ou mais (dos nove) sintomas de desatenção e/ou hiperatividade necessários para a confirmação do diagnóstico, segundo este manual (por sinal, na minha opinião alguns deles deveriam ser considerados o mesmo, mas isso vale uma outra postagem). Ainda segundo o DSM, é necessário que estes sintomas persistam “por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento”. É preciso ainda que algum prejuízo causado por eles esteja presente em dois ou mais contextos e “deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.” Ou seja, será que estes dois profissionais tiveram tempo pra garantir todas essas condições?
O que eles sabem dessa criança, da escola dessa criança, dessa criança na escola, dessa criança com os pais, dos pais dessa criança? De como ela se desenvolveu, do que sente, do que faz e o que sonha? Das qualidades que ela tem, das reações que provocam nela, de como ela brinca com os amigos, de como é quando não está agitada num consultório com pessoas desconhecidas? Acho que quase nada. Mas querem consertá-la. Ou melhor, conCertá-la. O que me indigna é que quem está fazendo isto com as crianças é justamente quem deveria protegê-las dos estigmas. Elas não têm autonomia e vão pra onde são levadas. E correm o risco de se tornarem aquilo que outros vêem nelas. Sem conhecê-las.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Como explicar?
Se
2 elevado a 1 é igual a 2 (2)
2 elevado a 2 é igual a 4 (2x2)
2 elevado a 3 é igual a 8 (2x2x2)
2 elevado a 4 é igual a 16 (2x2x2x2)
2 elevado a 5 é igual a 32 (2x2x2x2x2)
e assim sucessivamente...
Por que então o 2 elevado a 0 é igual a 1? (e não a 0 ou a nada ou a nenhum dois ou, simplesmente, uma potência inexistente)
Tudo bem, se fizermos o caminho contrário, dá pra entender:
32 é o dobro de 16, que é o dobro de 8, que é o dobro de 4, que é o dobro de 2, que é o dobro de 1 (que é o 2 elevado a 0). Faz todo sentido.
Mas se o número do expoente é o número de vezes em que se deve multiplicar a base por ela mesma, quando o expoente é 0, a base não deveria ser inexistente? Não deveria ter 2 nenhum ali!! Por outro lado, o 2 ESTÁ ali. Isso é fato.
Como explicar isso a um aluno? Ou antes, como entender isso?
Algumas coisas a gente tem mesmo é que aceitar e pronto né?
Aceitar que 2 elevado a 0 é igual a 1 e ponto final.
Aceitar isso, até que é fácil.
O duro é não entender na vida porque algumas coisas são como são.
E porque algumas coisas que deveriam simplesmente inexistir, teimam em existir.
E sem as explicações convincentes.
O jeito é aceitar do mesmo jeito que temos que aceitar o 2 elevado a zero.
E desistir de entender.
2 elevado a 1 é igual a 2 (2)
2 elevado a 2 é igual a 4 (2x2)
2 elevado a 3 é igual a 8 (2x2x2)
2 elevado a 4 é igual a 16 (2x2x2x2)
2 elevado a 5 é igual a 32 (2x2x2x2x2)
e assim sucessivamente...
Por que então o 2 elevado a 0 é igual a 1? (e não a 0 ou a nada ou a nenhum dois ou, simplesmente, uma potência inexistente)
Tudo bem, se fizermos o caminho contrário, dá pra entender:
32 é o dobro de 16, que é o dobro de 8, que é o dobro de 4, que é o dobro de 2, que é o dobro de 1 (que é o 2 elevado a 0). Faz todo sentido.
Mas se o número do expoente é o número de vezes em que se deve multiplicar a base por ela mesma, quando o expoente é 0, a base não deveria ser inexistente? Não deveria ter 2 nenhum ali!! Por outro lado, o 2 ESTÁ ali. Isso é fato.
Como explicar isso a um aluno? Ou antes, como entender isso?
Algumas coisas a gente tem mesmo é que aceitar e pronto né?
Aceitar que 2 elevado a 0 é igual a 1 e ponto final.
Aceitar isso, até que é fácil.
O duro é não entender na vida porque algumas coisas são como são.
E porque algumas coisas que deveriam simplesmente inexistir, teimam em existir.
E sem as explicações convincentes.
O jeito é aceitar do mesmo jeito que temos que aceitar o 2 elevado a zero.
E desistir de entender.
sábado, 13 de agosto de 2011
Aos pais
Impressionista
(Adélia Prado)
"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo".
O meu pai não pintou de alaranjado brilhante a minha casinha de bonecas e nem o rancho do meu irmão. Mas, por muitos e muitos anos, amanhecemos felizes ali, ao lado dele e da nossa mãe.
Que bons momentos e boas lembranças como esta preencham o domingo de todos nós.
(Adélia Prado)
"Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo".
O meu pai não pintou de alaranjado brilhante a minha casinha de bonecas e nem o rancho do meu irmão. Mas, por muitos e muitos anos, amanhecemos felizes ali, ao lado dele e da nossa mãe.
Que bons momentos e boas lembranças como esta preencham o domingo de todos nós.
domingo, 3 de julho de 2011
Pra Julia
É sempre a si mesmo e a seu sentimento que deve dar razão
contra toda explanação, comentário ou introdução dessa espécie.
Mesmo que se engane, o desenvolvimento natural da sua vida interior
há de conduzi-lo devagar, e com o tempo,
a outra compreensão.
Deixe a seus julgamentos sua própria e silenciosa evolução
sem a perturbar:
Como qualquer progresso,
ela deve vir do âmago do seu ser
e não pode ser reprimida ou acelerada por coisa alguma.
Tudo está em levar a termo e depois, dar à luz.
Deixar amadurecer inteiramente,
no âmago de si,
nas trevas do indizível e do inconsciente,
do inacessível a seu próprio intelecto,
cada impressão e cada germe de sentimento
e aguardar com profunda humildade e paciência
a hora do parto de uma nova claridade.
Aí o tempo não serve de medida:
um ano nada vale, dez anos não são nada.
Amadurecer como a árvore
que não apressa sua seiva
e enfrenta tranqüila as tempestades da primavera,
sem medo de que depois dela não venha nenhum verão.
O verão há de vir.
Mas virá só para os pacientes,
que aguardam num grande silêncio intrépido,
como se diante deles estivesse a eternidade.
Aprendo-o diariamente no meio de dores a que sou agradecido:
a paciência é tudo.
(Rainer Maria Rilke)
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Será que não pode mesmo?
Muita gente acha que as crianças, desde muito cedo, precisam ter claro sobre o que podem e o que não podem mexer. Há os pais que se recusam a mudar qualquer detalhe da decoração da casa, porque acreditam que os filhos é que precisam se adaptar ao ambiente. As brincadeiras deles devem se limitar ao quarto cheio de brinquedos. Mas será que os brinquedos que costumamos dar a eles atendem as suas necessidades (cognitivas, afetivas, motoras, sensoriais)? E será mesmo que eles é que devem se adaptar ao ambiente? Não podemos mudá-lo, ao menos por um período, em função da chegada deles? Eles viram de ponta cabeça as nossas vidas e por que a sala de estar tem que continuar a mesma como se nada tivesse ocorrido?
Uma criança que entra na cozinha e pega vários potes de plástico (o que raramente é permitido), para brincar com eles da maneira que bem entender, e com muita seriedade, pode fazer isso para atender alguma necessidade cognitiva, por exemplo. Quando tenta colocar um dentro do outro, está seriando. Quando separa tampas de um lado e potes do outro, está classificando. Quando, depois disso, procura a tampa de cada um dos potes, está fazendo correspondências. Está quantificando, comparando e, principalmente, escolhendo de que forma quer ou pode desenvolver essas noções. Noções que, lá adiante, serão pré-requisitos para aprender a matemática. No entanto, nós adultos temos receio de que, ao permitirmos isto, estaremos cedendo aos seus caprichos e vontades. Ela pode crescer sem limites, achando que pode fazer tudo que quiser. Em primeiro lugar, eu diria que estaremos sim cedendo. Mas mais às suas necessidades e interesses do que às suas vontades. Mas se ela tem, no quarto dela, aquele conjuntinho de cinco potes iguais, mas de tamanhos diferentes, que vem um dentro do outro, por que é que precisa dos potes “de verdade”? Será que o conjuntinho dela desafia tanto assim, como os da cozinha que não estão já arrumadinhos um dentro do outro e nem são assim tão iguais, diferentes apenas nos tamanhos? Será que os da cozinha não oferecem mais possibilidades de arranjos?
E aqueles livros gigantes de arte do papai e da mamãe então? Aqueles que ficam no rack e que raramente alguém usa? Uma delícia fazer com eles quase a mesma coisa que se faz com os potes da cozinha. De jeito nenhum. Os livros de arte? Nunca. Será que os mais especiais não podem ir pra um outro lugar, por um período, até que eles não sejam mais tão sedutores e, por que não, tão necessários? Por que não ficarem ali os que podem ser empilhados, organizados, arrumados, comparados, percebidos, olhados, “lidos”. Os pesados, os leves, os enormes, os finos, os grossos, os retangulares, os quadrados, os que só têm ilustrações, os que têm ilustrações em PB apenas, etc...
É claro que tudo isso depende das peculiaridades de cada família. Difícil esperar de uma família extremamente organizada, que permita uma festa de potes na cozinha. É claro também, que nem sempre estamos disponíveis e com paciência para encorajar as aventuras dos pequenos. Mas com isto eles também vão ter que aprender a conviver. E tem ainda os objetos que são indiscutivelmente proibidos. Os vidros, o fogão (nem perto dele), as facas, os objetos com pontas. Alguns, podemos e devemos deixar fora do alcance. Não deixar que mexam nesses, com o argumento claro e objetivo de que são perigosos, também é prova de amor. Até por isso é que gostam (e precisam) tanto de brincar perto dos pais. Algumas referências nós é que precisamos dar a eles.
Ter as mais diversas oportunidades de exploração é garantia de maior sucesso na aprendizagem da matemática. Não há dúvida disso. Matemática é estabelecer relações. E quanto mais coisas em relação a criança puder colocar, mais fácil pra ela vai ser colocar propriedades abstratas em relação lá na frente. Além disso, se olharmos pra estas incansáveis buscas das crianças como resultado de necessidade e não de capricho ou mimo, estaremos também favorecendo um desenvolvimento emocional mais saudável, porque estaremos compreendendo-as e não apenas ocupados em “colocar limites”. Até porque, limites também devem ser superados. Desenvolver-se é superar limites e não apenas respeitá-los.
Uma criança que entra na cozinha e pega vários potes de plástico (o que raramente é permitido), para brincar com eles da maneira que bem entender, e com muita seriedade, pode fazer isso para atender alguma necessidade cognitiva, por exemplo. Quando tenta colocar um dentro do outro, está seriando. Quando separa tampas de um lado e potes do outro, está classificando. Quando, depois disso, procura a tampa de cada um dos potes, está fazendo correspondências. Está quantificando, comparando e, principalmente, escolhendo de que forma quer ou pode desenvolver essas noções. Noções que, lá adiante, serão pré-requisitos para aprender a matemática. No entanto, nós adultos temos receio de que, ao permitirmos isto, estaremos cedendo aos seus caprichos e vontades. Ela pode crescer sem limites, achando que pode fazer tudo que quiser. Em primeiro lugar, eu diria que estaremos sim cedendo. Mas mais às suas necessidades e interesses do que às suas vontades. Mas se ela tem, no quarto dela, aquele conjuntinho de cinco potes iguais, mas de tamanhos diferentes, que vem um dentro do outro, por que é que precisa dos potes “de verdade”? Será que o conjuntinho dela desafia tanto assim, como os da cozinha que não estão já arrumadinhos um dentro do outro e nem são assim tão iguais, diferentes apenas nos tamanhos? Será que os da cozinha não oferecem mais possibilidades de arranjos?
E aqueles livros gigantes de arte do papai e da mamãe então? Aqueles que ficam no rack e que raramente alguém usa? Uma delícia fazer com eles quase a mesma coisa que se faz com os potes da cozinha. De jeito nenhum. Os livros de arte? Nunca. Será que os mais especiais não podem ir pra um outro lugar, por um período, até que eles não sejam mais tão sedutores e, por que não, tão necessários? Por que não ficarem ali os que podem ser empilhados, organizados, arrumados, comparados, percebidos, olhados, “lidos”. Os pesados, os leves, os enormes, os finos, os grossos, os retangulares, os quadrados, os que só têm ilustrações, os que têm ilustrações em PB apenas, etc...
É claro que tudo isso depende das peculiaridades de cada família. Difícil esperar de uma família extremamente organizada, que permita uma festa de potes na cozinha. É claro também, que nem sempre estamos disponíveis e com paciência para encorajar as aventuras dos pequenos. Mas com isto eles também vão ter que aprender a conviver. E tem ainda os objetos que são indiscutivelmente proibidos. Os vidros, o fogão (nem perto dele), as facas, os objetos com pontas. Alguns, podemos e devemos deixar fora do alcance. Não deixar que mexam nesses, com o argumento claro e objetivo de que são perigosos, também é prova de amor. Até por isso é que gostam (e precisam) tanto de brincar perto dos pais. Algumas referências nós é que precisamos dar a eles.
Ter as mais diversas oportunidades de exploração é garantia de maior sucesso na aprendizagem da matemática. Não há dúvida disso. Matemática é estabelecer relações. E quanto mais coisas em relação a criança puder colocar, mais fácil pra ela vai ser colocar propriedades abstratas em relação lá na frente. Além disso, se olharmos pra estas incansáveis buscas das crianças como resultado de necessidade e não de capricho ou mimo, estaremos também favorecendo um desenvolvimento emocional mais saudável, porque estaremos compreendendo-as e não apenas ocupados em “colocar limites”. Até porque, limites também devem ser superados. Desenvolver-se é superar limites e não apenas respeitá-los.
sábado, 21 de maio de 2011
Uma boa conversa
_ Você conhece o J. da sua escola?
_ De que ano?
_ Sétimo.
_ É um de cabelo bem raspadinho?
_ É. (a inicial do nome e as características da criança não são verídicas)
_ Conheço. Nossa, ele é tão chato mãe!
_ Por que?
_ Ah. Sei lá.
_ Você acha que ele é um aluno vulnerável a sofrer bullying?
_ Acho.
_ Por quê?
_ Ah. Todo mundo fica zoando com ele. Empurram.
_ E você sabia que ele tem uma inteligência acima da média?
_ É mesmo? Mas por que então ele ficou num monte de recuperação?
_ Porque alguma coisa está interferindo no desempenho dele. Não é por falta de capacidade.
_ Nossa! Mas parece que ele tem algum problema, sei lá.
_ Você sabia que pode jogar com ele de igual pra igual? Quatro em linha, combate, dama e até gamão. Ele tem um raciocínio lógico brilhante.
_ Sério?
_ Sério. Ele joga melhor que muitos alunos. Venceria muitos. Seria tão legal se os colegas pudessem conhecê-lo melhor né? Acho que iam se surpreender, você não acha? Que iam descobrir muitas coisas legais nele.
_ Poxa mãe. Vou dar um toque nos meus colegas pra pararem de zoar com ele.
_ Legal filho. Faz isso sim. Todos os lados vão ganhar. Vocês podem descobrir um amigo bem bacana. E olha, ele está sofrendo bastante, viu? Está se sentindo muito sozinho.
Esse é um papo que tive ontem com meu filho de 14 anos e que fez muito bem pra nós dois. Estou trazendo pra cá só pra ilustrar como a gente pode ajudar. E não ajudar quem sofre o "bullying" (entre aspas porque resisto aos rótulos que são cada vez mais utilizados para tratar questões tão amplas), mas os que cometem, ou os que podem vir a cometer ou ainda, os que apenas observam e não sabem o que fazer. E nem mesmo direito o que pensar. Os adolescentes, todos, precisam de mais informação. Não adianta recriminá-los quando acaba de ocorrer um episódio que pode caracterizar bullying. E daí separá-los em dois lados: o das vítimas e o dos vilões. É nos momentos de paz que precisamos conversar com eles para sensibilizá-los e sugerir que se coloquem no lugar de um outro. Na hora que a coisa acontece, as emoções estão à flor da pele e tudo fica muito nebuloso. Vamos perguntar a eles se têm algum colega que pode estar sofrendo, que pode estar triste, sozinho, sem amigos. Vamos escutar o que eles têm a nos dizer sobre tudo isso. E não esperar que cometam ou sofram violência (psicológica ou física) para só então chamá-los pra conversar. Eles esperam isso de nós. Eles gostam de falar sobre isso. Eles precisam. Todos eles. Os que estão agredindo precisam da mesma ajuda que precisam os que estão sendo agredidos. Se com este papo eu conseguir que meu filho sensibilize ao menos dois amigos, já fico muito feliz. Quem sabe esses dois façam o mesmo. E a rede cresce em proporção geométrica. Uma boa maneira de aplicar o conhecimento que a escola tenta transmitir.
_ De que ano?
_ Sétimo.
_ É um de cabelo bem raspadinho?
_ É. (a inicial do nome e as características da criança não são verídicas)
_ Conheço. Nossa, ele é tão chato mãe!
_ Por que?
_ Ah. Sei lá.
_ Você acha que ele é um aluno vulnerável a sofrer bullying?
_ Acho.
_ Por quê?
_ Ah. Todo mundo fica zoando com ele. Empurram.
_ E você sabia que ele tem uma inteligência acima da média?
_ É mesmo? Mas por que então ele ficou num monte de recuperação?
_ Porque alguma coisa está interferindo no desempenho dele. Não é por falta de capacidade.
_ Nossa! Mas parece que ele tem algum problema, sei lá.
_ Você sabia que pode jogar com ele de igual pra igual? Quatro em linha, combate, dama e até gamão. Ele tem um raciocínio lógico brilhante.
_ Sério?
_ Sério. Ele joga melhor que muitos alunos. Venceria muitos. Seria tão legal se os colegas pudessem conhecê-lo melhor né? Acho que iam se surpreender, você não acha? Que iam descobrir muitas coisas legais nele.
_ Poxa mãe. Vou dar um toque nos meus colegas pra pararem de zoar com ele.
_ Legal filho. Faz isso sim. Todos os lados vão ganhar. Vocês podem descobrir um amigo bem bacana. E olha, ele está sofrendo bastante, viu? Está se sentindo muito sozinho.
Esse é um papo que tive ontem com meu filho de 14 anos e que fez muito bem pra nós dois. Estou trazendo pra cá só pra ilustrar como a gente pode ajudar. E não ajudar quem sofre o "bullying" (entre aspas porque resisto aos rótulos que são cada vez mais utilizados para tratar questões tão amplas), mas os que cometem, ou os que podem vir a cometer ou ainda, os que apenas observam e não sabem o que fazer. E nem mesmo direito o que pensar. Os adolescentes, todos, precisam de mais informação. Não adianta recriminá-los quando acaba de ocorrer um episódio que pode caracterizar bullying. E daí separá-los em dois lados: o das vítimas e o dos vilões. É nos momentos de paz que precisamos conversar com eles para sensibilizá-los e sugerir que se coloquem no lugar de um outro. Na hora que a coisa acontece, as emoções estão à flor da pele e tudo fica muito nebuloso. Vamos perguntar a eles se têm algum colega que pode estar sofrendo, que pode estar triste, sozinho, sem amigos. Vamos escutar o que eles têm a nos dizer sobre tudo isso. E não esperar que cometam ou sofram violência (psicológica ou física) para só então chamá-los pra conversar. Eles esperam isso de nós. Eles gostam de falar sobre isso. Eles precisam. Todos eles. Os que estão agredindo precisam da mesma ajuda que precisam os que estão sendo agredidos. Se com este papo eu conseguir que meu filho sensibilize ao menos dois amigos, já fico muito feliz. Quem sabe esses dois façam o mesmo. E a rede cresce em proporção geométrica. Uma boa maneira de aplicar o conhecimento que a escola tenta transmitir.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
A elas
Por Bibi da Pieve
Do blog
Leve um casaquinho!
Recém-nascidas
É como se o mundo ficasse numa bandeja à parte, e a gente fosse se servindo de uma beliscada aqui, outra ali – mas o prato que está na nossa frente, aquele do sustento do dia-a-dia, é mesmo o bebê. Ou a maternidade.
Dizem sempre: “dá um trabalho danado, mas é maravilhoso”. Não é um trabalho “danado”. É um aluguel desmedido, coisa que exige total entrega. Digo isso sem a menor culpa porque é a mais pura verdade. Trabalho danado é escrever um livro. Amamentar e cuidar de um bebê é entrega. Tudo que há em você é derramado num copo, e o conteúdo é bebido (sugado) por aquela criaturazinha. Então você quer ser esperta, ou supermulher, ou seja lá o diabo da sua fantasia, e resolve se espremer um pouco para fazer sair mais algumas gotinhas – na esperança de “sobrar” um pouco.
Nada, não sobra nada. É 100% aproveitado pelo bebê, 24 horas por dia. Quanto maior você se achar, mais entrega haverá. Não sei mais o que é desperdício (de tempo ou de amor) e também não guardo nada: tudo é utilizado. E é freqüente a sensação de que preciso abastecer a despensa, senão me esvaio.
De outro lado, “maravilhoso” é um adjetivo que cabe, mas não preenche. Maravilhoso a gente usa até para um pato assado!
Quando olho para a minha filha, perco os caminhos lineares. Não existe olhar/sentir/pensar/formular/dizer. Não existe ordem, nem mesmo o processo de ordenar. É uma experiência tão direta – a mais direta que já conheci – que até me pergunto se posso chamar de experiência. Talvez seja outro tipo de oxigênio ou uma canção.
Um bocejo dela me boceja inteira, um choro me chora, um sorriso involuntário me transforma em alegria da cabeça aos pés. Como é que o budismo classificaria?
Não sei se vem dela ou de mim. Vai ver que vai de cada uma, somos recém-nascidas – a pequena, experimentando as primeiras sensações; a grande, desarticulando idéias. Não me sinto andando com as pernas, é como se alguma coisa lá pela garganta me guiasse.
Em vez de tropeçar, engasgo.
PS: A minha, até hoje, me fala pra não esquecer o casaquinho.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
A separação dos pais vivida pelos filhos
O texto abaixo foi escrito por uma adolescente, há mais ou menos um ano, quando seus pais decidiram se separar. Ao ler, fiquei muito comovida e impressionada com a qualidade literária. Pedi a ela que me autorizasse publicá-lo aqui, por acreditar que suas palavras tão carregadas de sentimentos pudesse nos ajudar a conhecer a vivência dolorosa e amendrontada dos filhos, quando há uma possibilidade de separação. E o mais bonito: não há no texto, nenhum tipo de julgamento aos pais. O que nos faz acreditar que o outro ponto de vista (o deles) tenha sido respeitado por ela, ou, ao menos, considerado, na hora de expressar sua experiência.
Obrigada por tornar um pouco nossa, a sua aprendizagem.
"18 anos de história, de felicidade, de vida, de casamento. E tudo acaba aqui, nessa noite abafada e desorientada .Estávamos atrás da porta, tentando ouvir o menor ruído que saísse daquela pequena fresta . Minha ansiedade finalmente falou mais alto, e resolvi fazer uma atuação barata alegando que estava cansada e com fome. Conseguia... sentir a frieza no ar, sentia o fim. Estava cansada, nervosa e com uma pequena pontada de medo. O medo só era pequeno porque eu tinha a ilusão de um final feliz. O ópio da ingenuidade, da ignorância, da futilidade. O medo.... O medo de ver a realidade. Atirei a primeira pedra.
“Fala logo se vocês vão se separar ou não, porque eu quero dormir”
As palavras saiam de minha boca sem ter noção das conseqüências. Como um suicídio precipitado. Palavras em vão, sem pensamento, sem sentimento. Já sabia o que ouviria a seguir,só tinha medo que eles repetissem para mim. Tinha medo de ouvir esse triste fim em voz alta.
“sim!sim!sim! Se você quer saber se a gente vai se separar, sim!” minha mãe disse aos berros deixando cair pequenas gotas de sua cerveja no chão.
Perdi todos os meus sentidos, quase que por um extinto animal estava no chão chorando toda a água existente no mesmo. Eu gritava, me arranhava, mas parecia que nada disso absorvia aquela dor. Essa dor completamente diferente de todas as dores que já senti. Algo novo, algo forte, algo que destrói. Todas as dores que naquele corpo já havia sentido, eram como cortes de papeis. Minha dor era um tiro no peito, só que não existia médico que a tratasse. Um tiro que não iria se cicatrizar.
Acordei com esses olhos inchados que não eram meus, um olhar apagado que não era o meu. Eu era alguém, que não era eu. A podridão interior conseguiu dominar a exterior. A alegria que antes reinava, agora não reina mais. Os risos que se abrochavam, agora murcham. E os rios de lágrimas, que antes eram secos, agora inundam. Quem é você? Quem é esse ser que sou eu, e não sou? O que serás que serás?
E aquela viola, que antes me entendiava, agora me salvava. E ao ouvir os primeiros acordes, o meu corpo foi simultaneamente se entregando a essa força. Tocava com uma precisão que nunca houve antes. E no meio de toda aquela escuridão, uma chama calorosa foi acesa. Nesse momento eu me senti como se o médico sempre ali parado, fizesse algo. Por mas que não saturado, meu corpo lentamente se restabelecia. E o remédio ali aplicado, tinha nome e sobrenome. Não pronunciava, mas aqueles olhos azuis que me olhavam de forma penetrante lentamente me curavam. Logo, os olhos foram se tornando um rosto, que se tornou um busto, que se tornou um corpo. Um corpo que de forma assustada me encarava indevidamente preocupada. Reconheci-o de imediato, aquela era ela, era aquela que me cura. Marina freire, esse é o seu nome. Esse é o meu remédio."
Obrigada por tornar um pouco nossa, a sua aprendizagem.
"18 anos de história, de felicidade, de vida, de casamento. E tudo acaba aqui, nessa noite abafada e desorientada .Estávamos atrás da porta, tentando ouvir o menor ruído que saísse daquela pequena fresta . Minha ansiedade finalmente falou mais alto, e resolvi fazer uma atuação barata alegando que estava cansada e com fome. Conseguia... sentir a frieza no ar, sentia o fim. Estava cansada, nervosa e com uma pequena pontada de medo. O medo só era pequeno porque eu tinha a ilusão de um final feliz. O ópio da ingenuidade, da ignorância, da futilidade. O medo.... O medo de ver a realidade. Atirei a primeira pedra.
“Fala logo se vocês vão se separar ou não, porque eu quero dormir”
As palavras saiam de minha boca sem ter noção das conseqüências. Como um suicídio precipitado. Palavras em vão, sem pensamento, sem sentimento. Já sabia o que ouviria a seguir,só tinha medo que eles repetissem para mim. Tinha medo de ouvir esse triste fim em voz alta.
“sim!sim!sim! Se você quer saber se a gente vai se separar, sim!” minha mãe disse aos berros deixando cair pequenas gotas de sua cerveja no chão.
Perdi todos os meus sentidos, quase que por um extinto animal estava no chão chorando toda a água existente no mesmo. Eu gritava, me arranhava, mas parecia que nada disso absorvia aquela dor. Essa dor completamente diferente de todas as dores que já senti. Algo novo, algo forte, algo que destrói. Todas as dores que naquele corpo já havia sentido, eram como cortes de papeis. Minha dor era um tiro no peito, só que não existia médico que a tratasse. Um tiro que não iria se cicatrizar.
Acordei com esses olhos inchados que não eram meus, um olhar apagado que não era o meu. Eu era alguém, que não era eu. A podridão interior conseguiu dominar a exterior. A alegria que antes reinava, agora não reina mais. Os risos que se abrochavam, agora murcham. E os rios de lágrimas, que antes eram secos, agora inundam. Quem é você? Quem é esse ser que sou eu, e não sou? O que serás que serás?
E aquela viola, que antes me entendiava, agora me salvava. E ao ouvir os primeiros acordes, o meu corpo foi simultaneamente se entregando a essa força. Tocava com uma precisão que nunca houve antes. E no meio de toda aquela escuridão, uma chama calorosa foi acesa. Nesse momento eu me senti como se o médico sempre ali parado, fizesse algo. Por mas que não saturado, meu corpo lentamente se restabelecia. E o remédio ali aplicado, tinha nome e sobrenome. Não pronunciava, mas aqueles olhos azuis que me olhavam de forma penetrante lentamente me curavam. Logo, os olhos foram se tornando um rosto, que se tornou um busto, que se tornou um corpo. Um corpo que de forma assustada me encarava indevidamente preocupada. Reconheci-o de imediato, aquela era ela, era aquela que me cura. Marina freire, esse é o seu nome. Esse é o meu remédio."
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
"Temos desterrado a alegria
A terra de onde ela nasce foi asfaltada
O cimento que a asfixia está composto de tédio, abulia, aborrecimento, desesperança.
Não é a tristeza a responsável por amordaçar a alegria.
Tampouco a angústia. Ao contrario, sentir angústia é a prova de que por debaixo do cimento ainda resta terra fértil.
Terra úmida, húmus humano por onde possa brotar a autoria que irá rachando o cimento.
Pelo pavimento do tédio se deslizam facilmente a frustração, a anorexia, a bulimia, a inibição cognitiva, a "síndrome do pânico” e as drogas (as ilegais e também as receitadas).
E os meninos, brincando à intempérie da asfaltada frustração dos maiores, talvez busquem com `inquietude´, `hiperatividade´ e ` desatenção´ algo de terra debaixo do alcatrão.
O conhecer, escutar, perguntar, abrir os olhos, falar. Podem fazer sofrer, mas não matar aalegria já que a alegria é o reconhecermos com a possibilidade de mudar e mudar-nos.
Esconder, fechar os olhos, tapar os ouvidos, calar, encapsular, medicamentar... translada, desloca a dor e adoece.
O contrário da alegria não e a tristeza, mas o aborrecimento, o omitir-se, o desaparecer.
A Alegria não é algo "light" que nos infantiliza, senão a força que permite a potencia criativa, incisiva e indiscreta da criança que extraviamos na busca pelo êxito adulto."
Fragmentos sobre la alegría y el aprendizaje
Alicia Fernández
“Psicopedagogia em psicodrama"
Editora Vozes, 2000.
A terra de onde ela nasce foi asfaltada
O cimento que a asfixia está composto de tédio, abulia, aborrecimento, desesperança.
Não é a tristeza a responsável por amordaçar a alegria.
Tampouco a angústia. Ao contrario, sentir angústia é a prova de que por debaixo do cimento ainda resta terra fértil.
Terra úmida, húmus humano por onde possa brotar a autoria que irá rachando o cimento.
Pelo pavimento do tédio se deslizam facilmente a frustração, a anorexia, a bulimia, a inibição cognitiva, a "síndrome do pânico” e as drogas (as ilegais e também as receitadas).
E os meninos, brincando à intempérie da asfaltada frustração dos maiores, talvez busquem com `inquietude´, `hiperatividade´ e ` desatenção´ algo de terra debaixo do alcatrão.
O conhecer, escutar, perguntar, abrir os olhos, falar. Podem fazer sofrer, mas não matar aalegria já que a alegria é o reconhecermos com a possibilidade de mudar e mudar-nos.
Esconder, fechar os olhos, tapar os ouvidos, calar, encapsular, medicamentar... translada, desloca a dor e adoece.
O contrário da alegria não e a tristeza, mas o aborrecimento, o omitir-se, o desaparecer.
A Alegria não é algo "light" que nos infantiliza, senão a força que permite a potencia criativa, incisiva e indiscreta da criança que extraviamos na busca pelo êxito adulto."
Fragmentos sobre la alegría y el aprendizaje
Alicia Fernández
“Psicopedagogia em psicodrama"
Editora Vozes, 2000.
sábado, 29 de janeiro de 2011
Não há manual para educar filhos
Quando morávamos em São Paulo, nosso primeiro filho, que hoje está com 14 anos, dormia todos os dias no carrinho, passeando por Higienópolis. Eu adorava aqueles nossos passeios noturnos. Quando viemos para o interior, o balanço do carrinho foi substituído pelo da rede na varanda. Se estávamos na casa da avó, sem rede e sem Higienópolis, saíamos de carro pra dar uma volta pela cidade. O segundo filho, hoje com três anos, resiste menos para dormir. Mas teve também sua fase de pegar no sono rodando de carro. Escutei muita música e pensei muito na vida nessas voltinhas. Era gostoso pra mim também. Não acho que estes hábitos tenham causado algum mal. Nunca gostei da literatura que dá receitas de como educar o seu bebê. Faça assim e assado para que seu filho: durma a noite inteira; largue chupeta e mamadeira; não chore de madrugada; mame no peito nas horas certas; coma tudo; etc, etc, etc. Muitas vezes, as fórmulas “mágicas” são extremamente burocráticas e trabalhosas. Você desiste antes mesmo de tentar. Além disso, elas desconsideram as peculiaridades de cada família. Não dá pra exigir, por exemplo, soluções que exijam disciplina e organização, de um casal boêmio. Sugerir que o casal mude de vida? É uma possibilidade. Mas essa mudança levaria tempo e talvez não desse para aplicar os resultados na educação do bebê, que cresce tão rapidamente. O que é ideal pra uma família pode não ser para outra. Há bebês que não querem chupeta. O meu primeiro não quis. Já o irmão, aceitou de cara e ainda precisa dela pra dormir. Tá na hora de largar? Tá. Mas isso vai acontecer já já. Talvez por isso, dormir tenha sido mais fácil pra ele. Lembro que o mais velho acordava às vezes de madrugada pronto pra brincar. O mais novo, se acorda, pega sua “pepê” e logo em seguida, pega no sono novamente. Filhos dos mesmos pais, mas em momentos diferentes. Tivemos o segundo com quase quarenta, e a chupeta, tão pouco recomendada, foi uma bênção. Uma grande aliada. Não há regras rígidas. Não deveria haver receitas. É claro, que o bom senso é sempre bem vindo. Subir e descer o elevador milhões de vezes para o bebê dormir, é extrapolar. Quantas mães são orientadas, burocraticamente, a dar tantas mamadas por dia, de tanto em tanto tempo, sentadas na postura tal, durante tantos meses, olhando e sorrindo carinhosamente para o bebê. "O leite materno é insubstituível e deve ser dado até os seis meses, impreterivelmente". Quantas noites a mãe está sem dormir, se está exausta, se os bicos do seio estão rachados, nada disso importa. Nestes casos, será que não seria preferível uma boa troca entre ela e o bebê, com mamadeira e não seios? Será que não seria mais benéfico do que o leite materno a qualquer custo? Há mães que conseguem, resignadamente, passar por tudo isso e garantir as mamadas até os seis meses. Mas há outras que não conseguem e precisam (e podem) encontrar um outro caminho. Muitas vezes, a orientação de um profissional é necessária. Mas ela só deveria ser dada depois de muito escutar a família. Não se pode pedir aos pais, mudanças que dificilmente conseguiriam cumprir. Isso só traria culpa e mais ansiedade, podendo até acentuar as queixas que os levaram a buscar ajuda. Um casal deve ser estimulado a acreditar que os recursos pra educar um filho estão dentro dele e não nos milhares de manuais que há por aí. Certamente, irão errar em muitas situações. Mas um tanto de condições adversas também pode contribuir para um desenvolvimento saudável.
Assinar:
Postagens (Atom)