terça-feira, 8 de setembro de 2009

Contando histórias com H

Em 1991, eu estava no quarto ano da faculdade de Psicologia e fiz um estágio no berçário da Unidade Sampaio Viana da FEBEM, no bairro do Pacaembu. Escolhemos, eu e um colega de turma, a ala dos bebês menores de um ano. Era uma sala grande, cheia de berços. Não me lembro quantas crianças exatamente, mas calculo que havia por volta de 20 para umas 3 atendentes, que só tinham tempo para os cuidados básicos. As crianças ficavam praticamente o tempo todo dentro do berço. Na época, eu aguentei firme, mas acho que hoje, depois de ser mãe, seria muito mais doloroso presenciar a solidão daquelas crianças tão pequenininhas. O nosso objetivo era levantar por meio de prontuários e outras fontes, as histórias daqueles bebês para que fossem contadas a eles pelas atendentes, mesmo que em horários de cuidados físicos como banho, por exemplo. Na verdade, precisávamos antes de tudo, mostrar a elas que isso poderia ter algum efeito positivo na vida de crianças que viviam em abrigos como aquele. Eu me lembro que uma delas espantou-se muito com a nossa proposta dizendo que eram apenas bebês e não entenderiam absolutamente nada. Esse era justamente o nosso maior desafio. Convencê-las do contrário. Com certeza, do ponto de vista da cognição, os bebês não entenderiam mesmo nada. Mas de alguma forma, aquelas palavras seriam traduzidas e chegariam neles por meio do toque, do carinho, da disponibilidade, do olhar. Eu me lembro de uma menininha que eu segurei no colo e olhando nos olhos dela, fui contando o pouco que sabia da sua história. O nome da sua mãe, do seu pai, onde tinha nascido, porque estava lá. Enquanto eu falava, o corpinho dela tremia todo. Foi uma experiência das mais marcantes na minha vida. Foi apenas um trabalho de formiguinha que não sabemos que efeito teve e se, duradouro, especialmente, para a Instituição. Mas pra mim, fez toda a diferença. Tomara que com a nova lei, as crianças adotadas tenham mais acesso às suas histórias de vida. Afinal, fica difícil seguir adiante se não se sabe de onde veio.

7 comentários:

  1. Naiara e Bebel: Quando a lua chega de onde mesmo que ela vem? Quando a gente nasce já começa a perguntar... Quem sou? Quem é? Onde é que estou?
    Mas quando amanhece quem é que acorda o sol?
    Quando a gente acorda já começa a imaginar
    Pra onde é que eu vou?
    Qual é? No que é que isso vai dar?
    Quando a estrela acende ninguém mais pode apagar... Quando a gente cresce tem um mundo pra ganhar... Brincar, dançar, saltar, correr
    Meu deus do céu onde é que eu vim parar?
    Quando a lua chega de onde mesmo que ela vem?
    Quando a gente nasce já começa a perguntar
    Quem sou? Quem é? Onde é que estou?
    Mas quando amanhece quem é que acorda o sol?
    Quando a gente acorda já começa a imaginar
    Pra onde é que eu vou? Qual é? No que é que isso vai dar?
    Quando a estrela acende ninguém mais pode apagar... Quando a gente cresce tem um mundo pra ganhar... Brincar, dançar, saltar, correr
    Meu deus do céu onde é que eu vim parar?
    Brincar, dançar, saltar, correr
    Meu deus do céu onde é que eu vim parar?

    ResponderExcluir
  2. Xan,assim viviam as crianças da Febem,sem saber de onde vieram e para onde iriam...
    Em 1958....trabalhei com as crianças do Instituto Masculino de Menores,que depois passou a ser Febem,na Av.Celso Garcia.Meu grupo,então era constituído de meninos de 2 a 4 anos...E tinha o Alexandre,loirinho lindo
    que vivia me rodeando para que eu o pegasse no colo.As famílias autorizavam a saída com
    funcionários,por ocasião do Natal.Eu trouxe ,
    o Alex. Eu queria muito adotá-lo.Mas,minha mãe não tinha saúde para cuidar para eu trabalhar.E o entusiasmo acabou também,porque
    o pai (tinha dois filhos alí internados)não doava nenhum deles.Até hoje penso no pequeno Alexandre.Entendo muito o seu esfôrço,Xan! Viví momentos de muita emoção.Um beijo.


    Que belo Poema!

    ResponderExcluir
  3. Algumas passagens ficam vivas pra sempre na nossa memória.
    Essa letra é linda mesmo. É uma composição do Paulo Tatit, do Palavra Cantada.

    ResponderExcluir
  4. Meu nome é Rosana Cristina,hoje tenho 43 anos,em 1973,fui arrancada a força da minha mãe,e levada para a instituição Sampaio Viana.Me recordo,eu não entendia nada o que estava acontecendo,o por que ,de terem me separado de minha mãe,que só pude reencontra-la aos meus 21 anos,por que fui á procura dela por conta própria,pois nunca ninguém ajudou-me a procura-la,e garanto,esse dia foi o dia mais feliz da minha vida!!!Quanta solidão,senti até o dia que pude encontra-la.Tenho certeza,que cada criança,que passou pelo Sampaio Viana teve uma história triste e necessitou de muito amor e carinho de suas mães,e receberam o tratamento frio dos funcionários que lá trabalharam,pois não me recordo de nenhum carinho ,que nós crianças da época,recebiamos deles(os funcionários)Tratavamos com muita frieza,me recordo disso até hoje.Graças á Deus tudo passou,Hoje sou uma sobrêvivente,e as outras crianças será que foram!!!!

    ResponderExcluir
  5. Sou a Rosana Cristina,autora do comentário anterior.Por que meu comentário,não foi aprovado?Por acaso é pecado falar a verdade?Tudo que disse é a MAIS PURA VERDADE,independente de vocês aprovarem ou não,a verdade foi dita,e vocês sabem muito bem o que estou falando.Me decepciono muitas vezes com a omissão dos seres que se dizem ser humanos.

    ResponderExcluir
  6. Olá Rosana,
    O seu comentário não foi aprovado antes porque acabo de fazer meu login. Ainda não tinha visto os novos. Não haveria motivos para omitir o seu.
    Um abraço.
    Alexandra.

    ResponderExcluir
  7. Olá Alessandra,obrigada por ter lido um pedacinho de minha história,pois na realidade ,daria para escrever um grande livro,mas muitas vezes prefiro,esquecer,apagar um pouco da memória,os momentos tristes que vivi,pois ainda a vida tem MUITO á nos oferecer,é só prestarmos atenção.A vida acaba colocando pessoas que nos ajudam á observar o quanto podemos ser úteis,importantes em nossas atitudes,valorizar mais tudo e todos ao redor,e o mais importante:A verdadeira felicidade,está nas pequeninas coisas no nosso,dia a dia!!!Pra que remoer o passado,se no presente podemos ser feliz?Alessandra,lhe desejo muita paz e saúde,um abraço,Rosana.

    ResponderExcluir