terça-feira, 1 de junho de 2010

Vigilância X Autonomia

Um projeto de lei, em discussão no Congresso, obriga todas as escolas de Educação Infantil (particulares e públicas) a instalar câmeras de monitoramento, com o objetivo (manisfesto) de reprimir os casos de violência na primeira infância. Segundo Foucault, em "Vigiar e Punir", para a economia do poder, é muito mais rentável vigiar do que punir. Por meio da vigilância, evita-se que as pessoas cometam atos ilícitos e sejam punidas depois. Função que as câmeras colocadas nas escolas cumpririam muito bem. No entanto, nada seria mais incoerente com o objetivo maior da educação, que é a conquista de autonomia moral e intelectual. Estamos sempre dizendo às crianças que devem fazer ou deixar de fazer certas coisas, única e exclusivamente, por considerá-las corretas ou não, e não para fugir de punições ou em busca de recompensas. Estas mesmas crianças assistem à instalação de um sistema de monitoramento que pretende, justamente, vigiar adultos para puní-los depois, se for o caso. E bem no espaço onde começam a ser confrontadas com valores morais importantes para a convivência humana (respeito, justiça, cooperação, responsabilidade, etc.) e onde, portanto, deveriam exercitá-los. Qual será o significado que essas crianças darão ao termo confiança, crescendo em ambientes tão vigiados? Como pode? Tanta contradição. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.

6 comentários:

  1. Minha querida Xan. Vou aqui emitir a minha opinião, sem nenhuma pretenção de ser dono da verdade, apenas meu modo de ver o problema. Em primeiro lugar eu concordo plenamente de que é "melhor prevenir do que remediar"e não "Vigiar e Punir", visto que considero não ser este o objetivo do projeto. Não generalizando, mas a grande maioria de brasileiros só age corretamente quando "sabe" que está sendo monitorado. As "Tias e Pros" na sua grande maioria são mal preparadas ou não tem preparação nenhuma. O que temos visto: escolas que fecham e esquecem uma criança presa numa sala de aula (e o desespêro dessa mãe), "tias ou pros" agredindo crianças indefesas...etc,portanto câmeras de monitoramento são importantes sim!
    Nós temos que agir dentro da realidade dos fatos, mesmo porque estamos tratando de crianças de "Escolas de Ensino Infantil", portanto crianças até 6 anos de idade, que não tem discernimento do que é certo ou errado; e nós como "pais" temos a obrigação de orientá-los, até que elas saibam por si só discernir o "bom e o ruim, o certo e o errado...etc". Agora filosofar sob incoerencia, objetivo maior da educação, conquista de autonomia moral e intelectual, valores morais, convivência (respeito, justiça, cooperação, responsabilidade...etc.", para crianças até 6 anos de idade, eu acho um pouco demais, afinal estamos no Brasil. Nessa idade as crianças devem estar seguras, brincar, desenhar, pintar, aprender algumas letras e números...etc. e sobretudo a "disciplina", assim estarão se preparando para enfrentarem o 1º grau, onde se iniciara a sua formação moral, escala de valôres...blá...blá...blá.
    A escola de Ensino Infantil, no meu modo de ver deve ensinar e fazer, sobretudo, a criança sentir prazer em ir para a Escola.
    Meu toque de humor: Se eu soubesse que meus filhos tinham apanhado na escola de alguma "Tia ou Pro", eu ia dar tanta porrada nessa infeliz, que mesmo sendo uma pessoa do bem, correta...etc,teria sido preso e responderia processo por "lesões corporais de natureza grave",rsrsrs, aí eu estaria contrariando a teoria de Foucault, pois seria punido. Desculpe a discordância, sei que sou polêmico, mas adoro debater e discutir com pessoas inteligentes. Quando os argumentos me convenssem, eu mudo minha opinião, pois "Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que manter aquela velha opinião formada...". Teria mais a te dizer sobre esse assunto, mas fica pra uma proxima vez. Beijão. Dagoberto.

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  2. Dago querido,
    Eu concordo que a maior parte dos brasileiros age corretamente quando sabe que está sendo monitorada. É justamente esta lógica que precisa ser mudada. E não há outra forma disso acontecer, que não seja por meio da Educação (familiar e escolar). Ou então, teremos que desistir dos nossos ideais porque estaremos sempre submetidos à realidade que se coloca. É verdade que temos visto crianças esquecidas em sala de aula ou agredidas por professores. Mas eu lhe pergunto: por que lente temos assistido a estas coisas? Pela lente da mídia não é? Que precisa de notícias que têm apelo, que trazem audiência e, portanto, mais anunciantes. Não acho que esta seja a regra. Há muitos bons exemplos por aí. Há muitos bons professores.
    Concordo também que crianças tão pequenas ainda não conseguem discernir o que é certo ou errado, bom ou ruim. Mas precisam conviver em ambientes acolhedores e confiáveis para que construam internamente (e portanto, solidamente) este discernimento.
    E é justamente por estarmos falando de Brasil, que discussões assim são tão importantes. São estas as sociedade que carecem desse tipo de reflexão. Caso contrário, nossas crianças continuarão crescendo nesta lógica. A mesma que a maior parte dos políticos usa. Pode parecer utópico tudo isto. Mas precisamos da utopia pra nos guiar na direção correta. Precisamos de uma meta e caminhar em direção a ela. Sem isso, estaremos sempre nos adaptando à realidade que se apresenta e assim, reforçando-a cada vez mais.
    Venha sempre contribuir. Adorei.
    Beijo. Saudades de vocês.

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  3. Por algum motivo, o meu comentário anterior não foi contabilizado.

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  4. Não há câmera que resolva um problema de falta de atenção e de respeito com a criança.Profissionais competentes,em escolas públicas e/ou privadas, também, com conteúdos educacionais de qualidade,teriam um importante papel. Mas,a conscientização, esta sim,deveria ser a principal meta a ser atingida. Educar...educar sempre!Um beijo.

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  5. Xan em primeiro lugar quero parabenizar vc por ter colocado um assunto tão importante para debates e reflexões.
    Eu continuo achando que câmeras de monitoramento são importantes, até que as coisas tomem um rumo diferente. As lentes da mídia, ah não é por aí. Dos dois exemplos que dei, o primeiro foi gravado por uma câmera que já existia na escola, colocada pela direção, a pedido de algumas mães que estavam intrigadas com certas marcas no corpinho de suas crianças. O segundo nem câmeras havia, a mãe na sua busca incansável para localizar seu filho, voltou na escola e escutou o choro dentro da escola fechada. Arrombou o portão, quebrou o vidro e resgatou seu filho. Aí ela comunicou a imprensa sobre o ocorrido, pois ainda podia ser processada por quebra do patriônio público, invasão de bem público, etc... Ah é claro que existe a imprensa marrom, mas a boa e saldavel imprensa é o maior guardião que nós temos. Graças a essa imprensa nós tomamos conhecimewnto de toda a corrupção desse govêrno, entre outras coisas...Quanto ao planejamento, vou procurar ser breve se o espaço me permitir, pois entendo um pouquinho (dei aulas no 3º e 4º anos da Faculdade). O planejamento tem como principal função minimizar erros. Vc estabelece um objetivo - ter uma Escola infantil eficiente. Para se alcançar esse objetivo temos que vencer etapas, quais sejam:
    - Melhor preparo e qualificação aos professores/educadores;
    - Ter escolas mais bem aparelhadas/equipadas;
    - Melhores salários;
    - Cursos de reciclagem e atualização;
    - Conteúdo programático básico, mínimo;
    - Etc...
    A medida que estas etapas forem sendo vencidas, iremos progredindo para o ideal...
    Aí poderemos eliminar as câmeras de monitoramento, dar melhor qualidade de ensino, melhor condição de trabalho, mais segurança...etc,fazendo com que a criança não tenha mêdo e sim prazer em ir pra escola.
    Isso não é utopico, basta vontade política.
    Desculpe ter resumido tanto, mas dá pra ter uma idéia do meu ponto de vista. Mais uma vez parabéns por ter colocado esse tema em pauta. Beijão Dagoberto.

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  6. Dago,
    Com lentes da mídia, eu não quis dizer que estes fatos foram criados ou registrados por ela. Claro que não. Eu estava me referindo a que tipo de notícia ela dá prioridade, com o objetivo de aumentar sua audiência e, com isso, atrair mais anunciantes.
    A imprensa deveria sim ser um guardião para todos nós, informando com a máxima imparcialidade possível. E claro, nos espaços adequados, emitir opinião ou marcar posição. Mas será que isso tem acontecido? Ou na maneira de informar, muitos veículos acabam conduzindo seu público a pensar de uma ou outra maneira. Claro, a mais conveniente aos seus interesses econômicos. E isto, ela pode fazer por meio do que escolhe ou não noticiar e da maneira como faz uma edição. Bom, mas este é um outro assunto e sou leiga para discutí-lo com profundidade.
    Eu acho que a discussão da necessidade ou não, ou melhor dizendo, da conveniência ou não, de se colocar câmeras faz parte do planejamento que você propõe. Não consigo pensar em qualificação de professores, em reciclagem, em conteúdo programático, sem pensar em concepções de educação e de infância. Elas devem ser o início de qualquer planejamento. Talvez esta seja a nossa divergência.
    Obrigada pela contribuição.
    Beijo grande.

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